Às 16h30 desta terça-feira (18), partiu do Largo do Arouche, região central de São Paulo, um ônibus organizado pelo Fórum Paulista LGBT rumo à primeira I Marcha Nacional LGBT em Brasília. Cerca de 40 pessoas de variados minicípios ocuparam o veículo. Dois mil quilômetros estavam à espera dos ativistas paulistas.
A aparente timidez entre as pessoas do ônibus não durou muito e logo grupos se formaram e ideias surgiram. "Não acho certo uma liderança do movimento se apresentar travestida", disse um ativista da área de saúde por volta das 21h. As respostas vieram rápido. "E a Salete Campari, não é uma pessoa séria?", indagou uma travesti com recém-completados 18 anos.
E assim o ônibus prosseguiu. O banheiro virou fumódromo. Muias vezes entravam três pessoas ao mesmo tempo. O cigarro terminava, mas os ocupantes permaneciam e, às vezes, saíam morrendo de calor. Sinais de que Brasilia já se aproximava. À 0h, vários casais se formaram. As pessoas se acalmaram e dormiram.
A marcha
Por volta das 10h, cerca de 3 mil pessoas já se encontravam em frente à Catedral de Brasília, local de aquecimento para a marcha, que seguiria por toda a Esplanada dos Ministérios. Embaixo de um sol de 35ºC, o deputado federal José Genoino (PT-SP) foi o primeiro a falar no trio.
"Não é a primeira vez que estou com vocês, estou sempre com o movimento gay", disse o deputado. Genoino alegou estar lá porque acredita que a sociedade deve "respeitar e aceitar" a união civil. Logo após a fala do parlamentar, Fernanda Benvenutt lembrou que o Governo Federal aprovara, na última segunda-feira (17), a instituição do nome social para travestis e transexuais em todo o Brasil.
Chico Alencar, deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, fez uma fala contundente e declarou que ficava feliz ao ver o "colorido" sobre a "fria arquitetura de Brasília". Para Alencar, a marcha é importante, pois ela pressiona para que se mude a "cultura, que é mais importante que a socidade legal (no sentido das leis)".
Jane de Castro abriu a marcha com o Hino Nacional. Logo em seguida, um burburinho chamaria a atenção de todos: a ex-BBB Angélica chegava para participar da marcha e divulgar uma festa que será realizada na capital. Outro momento de furor seria causado pela presença dos humoristas do programa "Pânico na TV", Bichesar e Serginho.
Próximo do fim da marcha, outros parlamentares chegaram. "Tenho uma teoria: esses parlamentares que lutam contra os direitos gays são enrustidos e não têm coragem de assumir as suas orientações sexuais", gritou a deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS).
Por último e muito aplaudida foi a vez da senadora Fatima Cleide (PT-RO) dar as caras. "Se existem as fobias, é porque os Direitos Humanos não estão sendo respeitados", denunciou a senadora. Todos os candidatos à Presidência foram convidados, mas apenas Plinio Marcos (PSOL) e Zé Maria (PSTU) compareceram.
Ao fim da marcha, o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, revelou que participaram dez mil pessoas. A Polícia Militar contabilizou dois mil participantes. Mas os organizadores declararam à reportagem que o número não é o mais importante. Comemoram o fato de pessoas do Brasil inteiro terem encarado viagens de mais de dez horas de duração e participado de uma manifestação que não incluía música e ferveção.
Uma segunda marcha já está marcada para o ano que vem e os ativistas sonham em triplicar o número de participantes.