Existem inúmeros tipos de mães homossexuais, lésbicas, bi ou gays, chamem pela nomenclatura que mais os agradar. Eu prefiro o termo gay, roubado dos meninos, com conotações mais modernas e menos história a carregar. Lésbica me parece muito sibilante, sssss, mesmo sabendo todo o mito da ilha de Lesbos. Talvez porque muitas vezes seja dito por pessoas pouco abertas à modalidade, em tom de pergunta, espanto e recriminação, “Então, você é lésbica?!!”.
Bem, para meu conforto vou usar o termo gay. Lendo os artigos, blogs e etc do Dykerama e outros espaços, senti falta de palavras, textos, qualquer coisa que falasse sobre as mães gays (ou afins). OK, sejamos justas, às vezes leio sobre isso… na Veja, Marie Claire e similares, falando sobre as novas modalidades de família, mas não era exatamente isso que gostaria de encontrar pelo meu caminho. Queria compartilhar, me enxergar, tirar dúvidas sobre o assunto.
E aí pensei: se alguém tem de escrever, por que não eu? Entrei em contato com o Paco, editor, e me dispus a falar sobre o assunto. E aqui estou, em minha primeira tentativa de expressar o que talvez não seja tão particular assim: como é a maternidade para uma mulher gay e as decorrências dessa opção.
Querer ter um filho (ou já ter um quando se resolve, pinta a chance ou o coração bate mais forte por outra mulher) mesmo sendo gay, apesar de ser gay, estando gay etc, não é tarefa das mais fáceis. Há uma série de questões circunstanciais decorrentes dessa orientação que uma mulher hétero não tem necessidade de resolver. Na verdade, muitas vezes ela nem pensa sobre esses assuntos, o filho acontece, na hora certa ou errada, como conseqüência ou não de uma escolha por ser mãe, mas por ter uma vida sexual, por ter deixado “a natureza seguir seu curso”.
Uma mulher 100% gay, não. Em geral, vai ser realmente uma escolha, pois se deixar ao acaso, à sorte, nunca irá engravidar. Vai ter de pensar muito, tomar decisões difíceis, enfrentar muitas barras e barreiras e, talvez, desistir no meio do caminho. Não sabe onde procurar ajuda, apoio, com quem conversar, não há um caminho já trilhado que lhe mostre atalhos. A história tem de ser reinventada a cada nova mulher gay que resolva engravidar. Mas isso acontece não porque não existam outras mulheres nessa situação, mas por falta de acesso à informação.
Minha história com o tema vem de longa data. Sempre quis ter um filho, mesmo sendo 100% gay (com algumas experiências hétero). Não que sentisse o tal instinto maternal, era mais uma decisão, mais mental, algo que me dizia que eu tinha de ter um filho. Uma vez me disseram, ao ler meu mapa astral, que eu tinha um aspecto forte com a questão da maternidade, acho que tem a ver com a lua no meio do céu, sei lá.
Por que alguém deseja ter filho? Pra deixar uma descendência, pra ter uma razão para viver, pra fazer as coisas diferentes do que seus pais fizeram, pra não se sentir só no mundo, pra acompanhar o milagre da vida, pra ter alguém que dependa totalmente de você, porque todo mundo tem filhos… esses motivos que podem levar qualquer mulher a querer ter um filho. E essa idéia foi sendo digerida bem aos poucos.
Uma vez, eu devia ter uns vinte e poucos anos, estava falando sobre o assunto com minha mãe e ela disse, pensando que minha única possibilidade de ser mãe seria a inseminação artificial: “E você vai por um filho no mundo sem pai?”. Lembro que respondi que ela havia escolhido tanto e eu não havia tido pai do mesmo jeito.
Como praticamente não tive pai, queria que meu filho tivesse um, o que já descartava a inseminação artificial. Não me agradava também essa história de ter na certidão de nascimento escrito: pai desconhecido. Vivia conversando com meus amigos gays, vendo se algum dele se animava com a idéia. Sabia que queria um cara gay, pois já tinha ouvido várias histórias de pais que acabavam tirando a guarda da mãe alegando que ela era gay e, por isso, não tinha condições morais, não era bom exemplo para os filhos. Os amigos até que achavam a idéia legal, mas na hora do vamos ver, quando falávamos a sério, davam pra trás.
Era um impasse e eu não sabia como resolvê-lo. Como se acha, ou se procura, um pai para um filho? Onde? Com que características? O que não me fazia desistir era a certeza de que tinha que ter um cara gay que quisesse ser pai, eu só não sabia aonde.
Um dia, resolvi entrar em um site de fazer amigos do UOL. Não tinha o hábito de teclar e conhecer pessoas pela net e não tenho até hoje. Foi a primeira e única vez que fiz isso. Havia um questionário bem detalhado com uma série de características pessoais e áreas de interesse para filtrar o tipo de pessoa que se desejava conhecer. Fui colocando o que mais tinha a ver comigo e cliquei em dois itens que achava que poderiam ser determinantes: ser gay (homem, claro) e afinidade por crianças. E enviei.
Não acreditei! Me apareceu (dentre outros) o perfil de um cara com uma mensagem de que procurava uma mulher para ser mãe de um filho dele…
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