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1º de dezembro: Aids, uma trilha sonora

Desde o surgimento da epidemia da Aids, há quase 30 anos, não foram poucos os projetos musicais que responderam direta ou indiretamente à crise. Grande parte destes trabalhos fala mais sobre emoções (focando em expressões de tristeza, raiva, pena e simpatia) e menos nas consequências pessoais e sociais da doença (como faz o cinema e a TV em geral) ou no confronto político (campo bem explorado pelas artes visuais).

Como resultado, canções sobre o tema tendem a ser menos específicas do que trabalhos em diferentes mídias ou suportes. Ainda assim, músicas de todos os tipos, estilos e categorias registraram o enorme impacto da epidemia na sociedade contemporânea.

Os primeiros trabalhos surgiram na mesma época em que as primeiras peças temáticas fervilhavam nos teatros metropolitanos internacionais, incluindo músicas punk de Karl Brown e Matthew McQueen como colaboração ao The Aids Show de San Francisco.

A primeira música de distribuição comercial a abordar o tema foi "Thing-Fish", de Frank Zappa, em novembro de 1984. A canção era uma sátira estilo Broadway onde estereótipos raciais e sexuais ilustravam uma conspiração governamental. Já a primeira música sobre o que se tornaria um estilo, "música para levantar fundos", foi um sucesso estrondoso no ano seguinte. O tema "That’s What Friends Are For", entoado por Burt Bacharach e Carol Bayer Sager, ganhou as rádios de todo o mundo.

O exemplo serviu para impulsionar aquele que seria o maior e melhor projeto de união entre a cultura pop e a epidemia: a Red Hot Organization. A instituição, desde 1989, lançou 15 compilações especiais onde músicos de diversas partes do mundo compõem ou cantam seus maiores sucessos em prol do combate ao HIV.

A organização nasceu do lançamento de "Red, Hot + Blue", de 1990, onde artistas da época criaram versões e novos arranjos para conhecidas canções de Cole Porter. A seguir, viriam diversos álbuns no estilo, abordando um ritmo ou região global. Um deles, inclusive, é o conhecido "Red, Hot + Rio", tributo bossa nova, cheio de cantores brasileiros, lançado em 1996.

Em 2006, a instituição relançou "Red, Hot + Latin", como comemoração aos 10 anos do álbum de influências latinas. Outros trabalhos de destaque da Red Hot são a coletânea de soft rock "No Alternative" (1993), o híbrido de jazz e rap "Stolen Moments" (1994) e a coleção de hip hop "América Is Dying Slowly" (1996). Até hoje, a Red Hot arrecadou mais de 7 milhões de dólares para projetos de Aids no mundo todo.

Outros artistas bastante famosos fizeram sua parte ao abordar a epidemia em hits de sucesso. É o caso de Prince ("Sign o’ the Times"), Lou Reed ("Halloween Parade"), Elton John ("The Last Song"), Madonna ("In This Life"), Patti Smith ("Death Singing"), Janet Jackson ("Together Again") e U2 (com a representativa "One").

No caso dos artistas gays, muitos não só se referiram diretamente, como também exploraram seus efeitos emocionais e sociais, especialmente Michael Callen and the Flirtations, Marc Almond, Jimmy Sommerville, o Comunards, sem esquecer dos Pet Shop Boys que, através de sua visão irônica, abordaram a vida gay dos 1990 e o impacto da epidemia, incluindo os desconfortos do sexo seguro.

Em alguns casos mais tristes, a Aids se aproximou da música de maneira fatal, levando importantes artistas que nunca serão esquecidos, como aconteceu com Klaus Nomi (ícone do ícone Antony, do Antony and the Johnsons), Calvin Haptom, Sylvester (um dos primeiros músicos assumidos da história, criador do hino "You Make Me Feel"), Michael Callen, Robert Savage, Freddie Mercury. No Brasil, os casos mais conhecidos são o de Renato Russo, ex-líder do Legião Urbana, e do eterno Cazuza.

Como qualquer grande acontecimento em qualquer período histórico da humanidade, a epidemia afetou a cultura e o universo musical nas últimas três décadas como poucas coisas fizeram. Levantando fundos, denunciando atos pouco humanitários ou expressando a angústia e a dor da perda de seres queridos, a música também tem papel fundamental na imagem que a Aids possui hoje. Fica a esperança de que a luta siga, mas que a tristeza pare. Afinal, hoje e sempre, quem canta, seus males espanta. Primeiro de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids.

* Tino Monetti ama música e acaba de criar seu primeiro blog sobre o tema: tinomusical.blog.com.

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