Como sou muito regulada, sabia o dia em que estava ovulando. Ia então até meu ginecologista que confirmava a ovulação (ou não) através de um ultra-som endovaginal. Ligava para o Edu e marcava nosso encontro. A primeira vez foi a pior. Tive de administrar nós três: eu, Edu e Lóri. Eu que procurei o motel para irmos, a Lóri super encanada mas agüentando firme.
Lá chegando, tive de dar um jeito de quebrar o gelo. Sabe o que é duas pessoas que não sentem nada fisicamente uma pela outra terem de transar? Pois é, haja papo e filme pornô. Só conseguimos porque somos muito determinados e tínhamos um objetivo. O Edu é macho paca, pois deu conta todas as vezes. Pra mim era mais fácil, pelo menos em termo de corpo. Falava sem parar para conseguir enfrentar a situação. Quando cheguei em casa, Lóri estava péssima, querendo brigar, irritada. Compreensível. Todo tipo de fantasia passou pela cabeça dela, tipo que eu ia gostar e me apaixonar. Eu sabia que isso era impossível, mas a cabeça da gente é esquisita…
Todo mês era a mesma coisa, mas o gine, que sabia de toda a história, recomendou que nós tentássemos dois dias seguidos. E lá íamos nós. Combinamos que tentaríamos o método natural durante seis meses e, se nada rolasse, partiríamos pra outras técnicas. Lá pelo quinto mês, o médico sugeriu alguns exames extras e descobri que tinha uma trompa entupida, a direita. Acontece que todas as vezes que ovulei, tinha ovulado por essa trompa. Ou seja, probabilidade quase nula de gravidez. Mas o próprio exame para verificar o funcionamento das trompas costuma ser ao mesmo tempo terapêutico, curativo.
A última vez que tínhamos tentado havia sido muito difícil para mim. Tinha me sentido como num estupro, coisa minha, o Edu era sempre muito delicado. Já não agüentava mais. Conversei com uma amiga, médica veterinária, e resolvemos fazer uma inseminação caseira. Funciona assim: recolhe-se o material, mantendo num frasco estéril sobre gelo. Através de uma sonda, o sêmen é colocado na entrada do útero. É um procedimento que exige técnica, perícia e experiência. Acontece que essa amiga veterinária era craque em fazer isso… em bichos. Mas, nas partes baixas todas nos parecemos, só muda o tamanho. E foi ela que realizou o procedimento. Na segunda tentativa depois de sabermos do meu problema na trompa, engravidei. Hoje sei que tive muita sorte, que pra todas as dificuldades, consegui até que rápido.
Aí começa outra etapa do processo, pois não basta engravidar, é preciso que a gravidez vingue, e é muito comum o aborto espontâneo, principalmente com mais de 35 anos. No segundo mês de gravidez, tive um sangramento importante, que me fez ficar de repouso por uma semana. Quando passou o terceiro mês, que é o trimestre de risco, pudemos ficar realmente felizes.
Tive uma gravidez fisicamente muito boa: não tive um enjôo sequer, pressão ótima, sem inchaço, tudo OK. Mas emocionalmente, me sentia ora uma bomba prestes a explodir, ora uma gangorra de emoções conflitantes. Tinha muitas fantasias de que o nenê pudesse nascer com problemas, encanava muito. Mas tive a grande sorte de uma amiga me indicar uma terapeuta de gravidez, que me fazia massagem, me acalmava, me dava dicas, um anjo da guarda. Ela foi fundamental nesse processo todo.
E as idas para fazer ultra-som? Os três juntos. Esquisito, pois o Edu nunca foi um amigo, alguém com quem eu tivesse intimidade afetiva. Ele e a Lóri juntos era aquele clima. Tantas coisas ainda por contar, que realmente dariam um livro. A reação das pessoas, família, amigos. As discussões sobre dinheiro, pensão. O quem estaria na hora do parto. A sensação da Lóri de ser excluída e de não ter amparo legal caso me acontecesse alguma coisa.
Bem, o que interessa é que a pequena nasceu, de parto normal e, como todas as mães dizem, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Quanto a essa família moderna, tudo está sempre em construção, em processo. Não há exemplos, modelos que possamos seguir. Tudo tem de ser muito pensado, analisado, para que os sentimentos dessa situação pouco comum, desse trio, não interfiram no que é melhor para a pequena. O que mais posso dizer? Valeu a pena e, a cada dia, ela nos tem feito, aos três, mais felizes.
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