Após a divulgação da pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil (elaborada pela Fundação Perseu Abramo e pela fundação alemã Rosa Luxemburgo Stiftung) e a sua conseqüente chegada as mídias de grande porte – como os jornais O Globo e Folha de São Paulo – um dado chamou a atenção de muita gente, tanto da comunidade LGBT quanto fora dela. A polêmica residia no fato dos jornais terem dado em suas chamadas que "99% da população brasileira tem preconceito com homossexuais". Tal afirmação suscitaria a hipótese de que todos os brasileiros seriam homofóbicos, incluindo aí, os próprios gays.
Gustavo Venturi, organizador e diretor da pesquisa, elaborou artigo onde explica os números apresentados e coletados em junho de 2008. O pesquisador justifica o trabalho como um "meio de subsidiar ações para que as políticas públicas avancem em direção à eliminação da discriminação e do preconceito contra a população LGBT, de forma a diminuir as violações de seus direitos e a promover o respeito à diversidade sexual".
Na seqüência do artigo é explicado que dentro da totalidade do número percentual de pessoas preconceituosas, há os níveis de graus de preconceitos. Por exemplo, 93% dos entrevistados disseram acreditar haver preconceito contra travestis, dentro desse número 73% disseram haver muito preconceito e 16% acreditam existir pouco preconceito.
Quando perguntados, os entrevistados na pesquisa, se eram preconceituosos, apenas 29% assumiram ter preconceito contra travestis. Para esse fato Gustavo Venturi explica que "o fenômeno de atribuir os preconceitos aos outros sem reconhecer o próprio é comum e esperado, posto que a atitude preconceituosa tende a ser socialmente condenável. Assim, além do preconceito assumido, de antemão buscou-se cercar o preconceito velado, recorrendo-se a três tipos de questões".
Contradizendo os 99% divulgados pela grande imprensa, Gustavo revela que "do total da amostra, 6% dos entrevistados foram classificados como tendo forte preconceito contra LGBTs; 39% como portadores de um preconceito mediano e 54% manifestaram um grau de preconceito que foi classificado como leve".
Gustavo divaga a respeito da maneira como foi divulgada a pesquisa. "Em que pese a tentação sensacionalista de ‘denúncia’ a partir da constatação de que 99% da população brasileira têm algum grau de preconceito contra LGBTs (na verdade um resultado ambivalente, já que também potencialmente paralisante), é importante cautela na leitura dos dados para não forçá-los a dizerem o que não sustentam".
Pois, ele explica que a mesma pessoa que no início da pesquisa revelou ter repulsa por LGBT, antes do tema diversidade sexual ser apresentado, pode estar entre aqueles que declaram ter pouco preconceito. "Tomar os 99% preconceituosos como indistintamente homofóbicos é tecnicamente incorreto, do ponto de vista da construção desse dado, e politicamente ineficiente, do ponto de vista da intervenção no problema".
Para fazer entender melhor a questão dos 99%, Gustavo lembra das pesquisas a respeito de Idosos no Brasil, onde 85% afirmou existir preconceito aos mais velhos e, depois a pesquisa sobre discriminação racial, onde 87% disse existir preconceito dos brancos com os negros. O autor segue e questiona:
"Isso significa que há mais preconceito contra LGBT que contra negros ou idosos no Brasil? Não necessariamente. Ou talvez que as formas que o preconceito contra LGBT adquire são piores que as do preconceito racial ou etário, em termos de violência e outras expressões de discriminação? Tão pouco os dados permitem afirmar, negar ou buscaram investigar isso".
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