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A Jornada da Primavera: luto e esperança no Festival Queer East

Filme taiwanês emociona ao retratar a dor da perda com sensibilidade e delicadeza

A Jornada da Primavera, exibido no Festival Queer East 2025, é um filme que, apesar de não focar diretamente em temas LGBTQIA+, ressoa profundamente com o público queer ao explorar a vulnerabilidade humana diante do luto e das relações familiares.

Dirigido por Tzu-Hui Peng e Ping-Wen Wang, este longa taiwanês de 2023 traz uma narrativa silenciosa e comovente sobre Khim-Hok, um homem idoso que vive às margens de uma pequena cidade de Taiwan, enfrentando a perda da esposa, Siu-Tuan. A história se desenrola com uma fotografia delicada, utilizando longos planos fixos que capturam o peso do cotidiano e a sensação de isolamento que acompanha o envelhecimento e a morte.

O peso do cotidiano e das pequenas batalhas

Khim-Hok e Siu-Tuan habitam uma casa acessível apenas por uma longa escadaria, um desafio que antes era suportável, mas que agora simboliza as dificuldades do envelhecimento. Enquanto Siu-Tuan recolhe garrafas plásticas e latas para reciclar, tentando garantir algum dinheiro, Khim-Hok vagueia pelos mercados em busca de peças para consertar a pia da cozinha, que permanece quebrada. Essa rotina mostra não apenas a precariedade material do casal, mas também a distância emocional entre eles, marcada por discussões e pequenos atritos.

Em um raro momento de ternura, o filme revela um breve instante de alegria: Khim-Hok cuida dos ferimentos da esposa após uma queda na escada, e juntos compartilham risadas assistindo televisão. Essa cena, frágil e preciosa, destaca a humanidade por trás da dor e da convivência.

Entre o silêncio e a ausência

Quando Siu-Tuan morre durante o sono, Khim-Hok se vê perdido, incapaz de comunicar a tragédia ao filho, que trabalha em uma banca de peixes ao lado de seu parceiro. A relação entre pai e filho é marcada por distâncias não ditas — o passado inclui um casamento do filho com uma mulher, que não resultou em netos para Khim-Hok, abrindo espaço para reflexões sobre família, expectativas e os múltiplos formatos de amor e pertencimento.

A narrativa é minimalista, deixando ao espectador a tarefa de preencher as lacunas, um convite para compreender o luto de forma íntima e pessoal. A trilha sonora, composta por delicados acordes de piano, reforça a atmosfera austera e melancólica que permeia o filme.

Simbolismo e reflexões que ecoam no público LGBTQIA+

A estética do filme, rodado em 16mm, confere uma textura granulada que torna o presente quase atemporal, com elementos modernos como celulares surgindo como anacronismos. A presença constante de plástico — garrafas, sacolas, embalagens — serve como metáfora da fragilidade e da efemeridade da vida, além de sugerir um olhar sobre o descarte e a reciclagem não apenas de objetos, mas também de memórias e relações.

O contraste entre a incessante chuva e a pintura de uma cachoeira no último plano do filme reforça a ideia de que nem tudo pode ser recuperado ou renovado. A jornada de Khim-Hok, interpretado com sensibilidade por Jieh-Wen King, é um retrato da solidão e da dor, mas também da coragem de seguir em frente mesmo quando a esperança parece escassa.

A Jornada da Primavera convida o público queer a refletir sobre perdas, reconciliações e o significado de família além dos padrões tradicionais. Sua delicadeza e sinceridade criam uma ponte emocional que ultrapassa fronteiras e identidades, tornando-se uma obra essencial para quem busca histórias que ecoam as complexidades da vida e do amor.

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