Queers Gambit cria espaço seguro para a comunidade LGBTQIA+ e promove ativismo antirracista e pró-Palestina
Em meio a um universo do xadrez marcado por exclusão e preconceitos, surge em Brooklyn, Nova York, o Queers Gambit, autointitulado o “clube de xadrez queer mais antiimperialista do planeta”. Fundado em 2023 por Niki Cross, Sapphrodite Alexander e Azani Amarachi Creeks, o coletivo não apenas oferece um espaço acolhedor e seguro para pessoas LGBTQIA+, mas também fortalece a luta política, a solidariedade e a consciência social.
Um refúgio para a comunidade LGBTQIA+ no tabuleiro
Para Niki Cross, advogada ambientalista que encontrou no xadrez local um ambiente quase deserto para pessoas queer, criar o Queers Gambit foi uma resposta à falta de representatividade e segurança. “Em um clube com 30 jogadores, eu era a única pessoa visivelmente queer e havia só uma mulher cis”, explica. O clube, então, se tornou um espaço onde não apenas se aprende o jogo, mas onde se constrói comunidade, onde os membros sabem que não estão sozinhes e podem se apoiar mutuamente.
Desafiando o machismo e a transfobia no xadrez
O mundo do xadrez não está imune aos problemas estruturais que assolam a sociedade, com relatos recentes de assédio sexual e exclusão de mulheres e pessoas trans em torneios oficiais. Em 2023, a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) chegou a banir mulheres trans de competições femininas, uma decisão que provocou revolta e mobilização contra o sexismo e a transfobia arraigados.
Contra esse cenário, o Queers Gambit atua como uma resistência, promovendo encontros mensais que vão além do jogo.
Ativismo, solidariedade e autocuidado
O clube se inspira em coletivos como o Body Hack, que une diversão e arrecadação para causas trans e queer. Em colaboração com bares de Brooklyn, como o Purgatory, o Queers Gambit doa parte das vendas para organizações como a Black Trans Liberation, que apoia pessoas trans negras com ajuda mútua.
Além disso, o grupo oferece testes rápidos gratuitos para infecções sexualmente transmissíveis, distribui máscaras e equipamentos de proteção para garantir a saúde dos participantes e se envolve em protestos e campanhas políticas, incluindo apoio à causa palestina.
Publicação e expressão: o zine Forking Trans Women
Para ampliar vozes e debates, Sapphrodite Alexander lançou o zine Forking Trans Women, que já publicou duas edições com temas que vão do ensino do xadrez a cartas de amor entre jogadores queer, passando por guias de sexualidade e críticas políticas contundentes, como denúncias do uso da pauta LGBTQIA+ para justificar o genocídio palestino.
Construindo comunidade para resistir
Azani Creeks reforça que o encontro do Queers Gambit é o começo, um passo para que pessoas se conectem, se politizem e participem de ações transformadoras. “Conhecer alguém numa roda de xadrez pode ser o convite para um protesto, um movimento, uma nova militância”, diz.
Em tempos sombrios para os direitos humanos, o Queers Gambit mostra que a resistência também se faz no tabuleiro, na cultura e na união afetiva entre pessoas que se recusam a aceitar o isolamento e o silenciamento.
Para a comunidade LGBTQIA+ brasileira e demais aliades, a história do Queers Gambit inspira a criação de espaços seguros e ativistas, onde cultura, lazer e política caminham juntos para construir um mundo mais justo e plural.