De Londres a Joanesburgo, as paradas de Pride seguem firmes na luta contra a discriminação LGBTQIA+
Ao redor do planeta, as marchas de Pride são muito mais do que festas coloridas e celebrações vibrantes: elas continuam sendo um poderoso grito de resistência contra a opressão e a desigualdade que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta diariamente. Apesar de avanços em muitos lugares, em pelo menos 70 países a perseguição ainda é legal, tornando o ato de se manifestar nas ruas um gesto de coragem e esperança.
O pioneirismo do Reino Unido
No Reino Unido, o legado do movimento Stonewall, iniciado em 1969, deu origem à primeira marcha do orgulho em Londres, em 1972, com apenas 2 mil pessoas nas ruas. Hoje, a capital britânica reúne mais de 1,5 milhão de participantes, mostrando como a luta ganhou força e visibilidade. No entanto, a transformação das manifestações em grandes paradas festivas, financiadas por corporações, suscita debates sobre a autenticidade e o foco político do movimento, especialmente ao buscar dar voz a identidades raciais e étnicas diversas.
América do Sul: o grito de protesto na Argentina
Na Argentina, o Pride mantém seu caráter essencialmente político. Em 2023, marchas em diversas cidades do país denunciaram o desaparecimento de um jovem homem trans e protestaram contra candidaturas políticas de extrema-direita. Para muitos ativistas argentinos, o orgulho é uma luta constante por direitos e liberdade, uma caminhada para garantir que todxs possam ocupar o espaço público sem medo e com dignidade.
Europa e Ásia: desafios e solidariedade
Na Polônia, onde o cenário político é marcado por retrocessos, o Pride se torna ferramenta contra a homofobia, o bullying e o discurso de ódio. Em 2020, a união entre as marchas de Kyiv (Ucrânia) e Varsóvia (Polônia) simbolizou resistência conjunta diante da agressão russa. Já nas Filipinas, a realização das paradas desde os anos 1990 não impede que ativistas enfrentem repressão policial e detenção arbitrária, como ocorreu em 2020, com o episódio conhecido como ‘Pride 20’. Mesmo assim, o orgulho segue mobilizando multidões, como os mais de 110 mil participantes em Quezon City em 2023.
África do Sul: orgulho como bandeira de luta continental
Na África do Sul, primeira nação africana a sediar o Pride em 1990, o mês de outubro é dedicado a celebrações que vão muito além das capitais, alcançando todas as províncias do país. Essas manifestações não só celebram a diversidade local, mas também denunciam a violência em outros países africanos, como Uganda, onde leis anti-LGBTQIA+ são mantidas e combatidas nas ruas sul-africanas por milhares de pessoas.
Estados Unidos: um cenário de tensões políticas
Nos Estados Unidos, onde o slogan “terra da liberdade” contrasta com ataques constantes aos direitos LGBTQIA+, o Pride tem sido palco de protestos contra projetos de lei discriminatórios. Em algumas cidades, o medo de retaliações levou ao cancelamento das paradas. A retirada de patrocínios corporativos após o enfraquecimento de políticas inclusivas mostra os desafios de manter o movimento vivo em meio a um clima político hostil.
O significado global do Pride
Esses exemplos deixam claro que a palavra “progresso” não é uniforme nem linear quando se trata dos direitos LGBTQIA+. O que une as marchas pelo mundo é a certeza de que Pride sempre foi, antes de tudo, uma manifestação política – uma voz que insiste em ecoar até que a igualdade seja uma realidade global. Como disse Audre Lorde, “não sou livre enquanto qualquer outra mulher estiver presa, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas”.
Para a comunidade LGBTQIA+ e seus aliados, celebrar o orgulho significa também reconhecer os desafios que ainda existem e reafirmar o compromisso com a luta por um mundo onde todxs possam amar e ser quem são sem medo.