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“Ficamos reféns da impunidade”, dizem amigos do jovem gay assassinado em São Gonçalo

Na última terça-feira (07) aconteceu a segunda audiência do caso Alexandre Ivo, 14, que foi vítima fatal de crime homofóbico em junho deste ano. O crime ganhou repercussão nacional devido à sua brutalidade e à pouca idade de Alexandre.

O crime ocorreu após uma briga que envolveu amigos do jovem. Amigo de Alexandre e também agredido pelo grupo de suspeitos, Jacy, 19, é uma das testemunhas do caso. Outra amiga de Ale que topou conversar com a reportagem é Suelen, 15. Além dos dois, havia um grupo de jovens com idade entre 15 e 20 anos, com o qual o estudante convivia.

Jacy declarou conhecer Alexandre há 3 anos. Com uma pulseira do arco-íris no punho direito, Suelen, amiga de Alexandre desde 2006, conta que eles costumavam ir ao shopping toda semana e que ficou sabendo do crime pela internet. "Eu caí dura, fiquei em choque! Foram seis noites sem dormir. Nós éramos muito amigos, estávamos toda hora juntos", lamenta.

O ponto de encontro do grupo era a Praça do Zé Garoto, em São Gonçalo (RJ). "Eu e o Ale costumávamos nos encontrar todos os dias para colocar o papo em dia", conta Jacy. "O mais entranho é que sempre que vou lá tenho a impressão de que Ale vai surgir a qualquer momento. Mas não vai né?"

Suelen lembra dos momentos em que Ale sumia e depois voltava agitado. "Tinha uns momentos em que o Ale sumia, às vezes porque ele ficava de castigo, e em uma outra ocasião ele foi morar com o pai. Aí do nada ele surgia, quando eu o avistava ele vinha correndo, a gente se abraça e se beijava… eu mordia a bunda dele…Que bunda que ele tinha", lembra aos risos Suelen.

A vida pós-tragédia
Jacy e Suelen contam que depois do assassinato começaram a pensar sobre o ocorrido. Jacy desmente o que foi divulgado pela grande imprensa de que Alexandre teria apartado a briga. "O Ale morria de medo de briga e confusão, durante a briga ele ficou dentro da casa. Ele ficou muito assustado com o que aconteceu", lembra Jacy.

Sobre os suspeitos, eles garantem que são os culpados. "Quando começaram a surgir as provas, as imagens, a gente começou a juntar as peças e tudo se encaixou", diz Jacy. Eric Boa Hora Bedruim, Alan Siqueira Freitas e André Luiz Cruz Souza, todos com 23 anos de idade, respondem em liberdade.

Questionados sobre mudanças em suas vidas após o assassinato, Jacy e Suelen contam que hoje não conseguem mais ficar tranquilamente nas ruas. "Temos medo", afirma Suelen. "A gente evita, antes ficávamos até de madrugada na rua, agora não mais. Ficamos reféns da impunidade", denuncia Jacy.

No meio da conversa surge Carol, 20, que relata já ter sido ameaçada por um dos suspeitos. "O Alan tem envolvimento sim com skinheads, ele é meu vizinho. Para eles morrer é pouco", diz revoltada. "Eu torço para que eles sejam presos e que na cadeia eles se tornem ‘mulherzinhas’ para verem o que é bom", completa.

Os amigos contam ainda que no dia do enterro de Alexandre os suspeitos circularam pelo cemitério. "Rondaram o enterro e ainda por cima debocharam", conta Suelen, que acredita que se os suspeitos forem a júri popular "serão presos com certeza". "A cidade está revoltada", acredita. Carol conta ainda que um dia após o crime os três jovens suspeitos caminhavam pela rua "rindo, como se nada tivesse acontecido".

Indignada, Suelen diz que os suspeitos foram "muito cruéis" com Alexandre. "Destruíram o rosto de neném do Ale e deixaram ele agonizando no local", recorda a amiga. Com um ar mais melancólico, Suelen conta alguns momentos em que viveu com Alexandre e revela que os dois iam juntos para raves. "Há duas semanas, fui pela primeira vez a uma rave sem a companhia do Ale. Nossa, foi muito difícil, quando as músicas que ele gostava começaram a tocar, foi inevitável, fiquei emocionada e comecei a chorar".

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