Se há algo de novo nas eleições municipais de 2008 é o fato de termos uma quantidade considerável de candidatos assumidamente gays e que empenham a bandeira das questões de políticas públicas específicas para este público. Porém, diante deste fato uma questão permeia: os gays votam em gays? Vivemos realmente uma eleição fora do armário?
Para Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia (GGB), apesar de o número de candidatos ter crescido, os homossexuais continuam a votar erroneamente. "Se compararmos 1996 quando se candidataram 12 GLBTs e, 2008 com 70 candidatos GLBTs, de fato, o aumento não foi assim tão significativo. Em 12 anos, as Paradas cresceram em número e em participantes em níveis bem superiores. Contudo, apesar do crescimento registrado em cada eleição, continuamos na mesma situação absurda: só quem se elege e reelege é a travesti Katia Tapeti, de Colônia do Piauí, de tradicional oligarquia pefelista. A alienação é generalizada entre os homossexuais e transgêneros, diferentemente do observado nos EUA e Europa, onde, há anos, muitos gays e lésbicas foram eleitos para cargos de destaque".
Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), aponta para o fato de estarmos vivendo um acontecimento nunca visto anteriormente – candidatos gays não oriundos da esquerda. "Até aqui nós temos um número inédito de candidatos assumidamente gays ou aliados – por volta de 160. Isso é muito importante e, nesse sentido, histórico. É um número inédito. Outro ponto novo é que temos candidatos gays ou aliados, com perfil de não esquerda", conclui Toni.
Julian Rodrigues, do Instituto Edson Néris (IEN) e do setorial LGBT do PT, acredita que esse ano há um espaço maior para o debate das questões homossexuais. "Essas eleições contam com mais espaço para a pauta dos direitos LGBT. Isso é fruto do fortalecimento do movimento e também das políticas públicas que começam a surgir, como as Conferências LGBT. Neste sentido, aumentam o número de candidatas e candidatos a vereadores com uma plataforma específica de trabalho pelos direitos da nossa população. Inclusive em partidos conservadores".
Fora do armário parece que a eleição está, visto que até candidatos de partidos conservadores levantam tais questões. Deste ponto de vista, como fica então questão do voto? Há setores do movimento LGBT que defendem o voto em pessoas gays. Outra parte diz que se deve votar no projeto e não no simples fato de o candidato ser homossexual. Luiz Mott defende o voto em gay.
"Essa é a grande esperança e empenho dos militantes que realmente querem nossa visibilidade e cidadania completas, sem ficar eternamente dependendo de simpatizantes como nossos porta-vozes. A história há de cobrar a traição daqueles que por se sujeitarem ao cabresto do voto partidário, deixam de eleger e tiram votos de bons, excelentes gays, lésbicas e travestis, preferindo fazer campanha para simpatizantes. Não se trata de votar em qualquer gay, mas em bons LGBT, gente como a gente", finaliza Mott.
Na opinião do militante Toni Reis, deve-se analisar o projeto político acima da orientação do candidato. "Vejo que o voto não pode ser pensado assim. Primeiro tem que se analisar a proposta e o comprometimento do candidato. Depois ver se ele participa dos espaços políticos, se milita em prol da causa. Acredito também que o fato de ser LGBT não deve ser premissa para o voto", afirma.
Opinião semelhante à de Toni é a de Julian Rodrigues. "Não. E nem devem votar. O que deve definir o voto é a honestidade, a trajetória, o compromisso de cada candidato(a) com a melhoria da vida da maioria das pessoas, como as propostas para melhorar as cidades e combater todo e qualquer tipo de discriminação. Outra coisa é saber se o candidato tem compromisso e envolvimento com a luta pela cidadania LGBT. Ser gay não é mérito nem demérito. Ser lésbica, travesti, transexual, bissexual não garante nem que a pessoa vá ser bom parlamentar ou prefeito, muitos que tenha compromisso e capacidade para trabalhar pelos direitos LGBT", encerra Julian.