Não há a necessidade de "defender-se da Bíblia", como afirmam alguns escritores gays. Artigos vêm sendo escritos como forma de manuais instrutivos para o homossexual se capacitar em contradefesa à Bíblia. Sinto-me na obrigação de refutar, pois são acusações injustas e levianas.
Se pararmos para refletir, veremos que é uma visão sem fundamentos. Talvez, a origem deste pensamento esteja relacionada à atitude de "militância gay", desenvolvida por meio de situações que levam o indivíduo desde a infância, ao enfrentamento do sofrimento e da dor de não ser aceito ou até mesmo, causado por preconceitos de pessoas que se utilizavam da Bíblia para condenação. Esta situação gera uma aversão ao objetivo utilizado como arma – no caso, a Bíblia -, rejeitando-a como mecanismo de proteção diante da dor.
Contudo, afirmo que o problema não está na Bíblia, e sim, em quem a lê. Portanto, não a desmereça, não atenue a importância da palavra de Deus nela contida ou contrarie sua autoridade e inspiração para a vida Cristã. Ao contrário, quem crê e ama a palavra de Deus, se esforça para entendê-la, e não apenas aceita o que é dito por cristãos que dela fazem uso, pois também são homens, suscetíveis a erros de interpretação.
É indiscutível que a Palavra de Deus é imutável: "passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão" (Marcos 13:31 / Mateus 5:18). Entretanto, o impasse que se tem sobre a Homossexualidade e a Bíblia, se encontra em sua interpretação, a qual é dirigida, essencialmente, ao momento histórico da época. A Bíblia menciona a homossexualidade, a partir da hermenêutica calculista de seus tradutores, analisando sempre de maneira seletiva os versículos. Isto pode ser evidenciado através de pesquisas modernas que têm enfatizado a hermenêutica tendenciosa de trechos bíblicos – uma interpretação que tem trazido trágicas conseqüências para homossexuais através de quase toda a história cristã.
Muitas vezes é necessário buscar fontes fora da Bíblia (História, Arqueologia, etc) e, estar imbuídos de boa-vontade para conhecer e entender o verdadeiro significado das passagens. Para tanto, é imprescindível conhecer as duas maneiras de interpretar a Bíblia: a LEITURA LITERAL e a HISTÓRICO-CRÍTICA.
A INTERPRETAÇÃO LITERAL, também conhecida como abordagem fundamentalista, alega entender o versículo justamente como se lê, sem interpretações. Não obstante, o cristão fundamentalista também segue uma regra de interpretação, apesar da contradição. Tal regra diz respeito à significação do texto que é feita no presente por quem o lê.
Já a LEITURA HISTÓRICO-CRÍTICA afirma que a significação do texto é dada por aquele que o escreveu no passado. Para afirmar qual é o ensinamento dado pelo texto bíblico hoje, primeiro é preciso compreendê-lo em sua situação original e, então, transportar seu significado para o presente. Este método é tão comum e efetivo que a maioria das igrejas o aceitam e o usam no sistema teológico, tanto acadêmico quanto no aperfeiçoamento profissional.
Mas as igrejas refutam esse método, ao citar passagens relacionadas à homossexualidade, pois acredito que elas têm receio das conclusões sugeridas pelo próprio método de interpretação histórico-crítico, que elas aprovam, pois este geralmente joga por terra algumas interpretações tradicionais.
Entretanto, não se iludam, pois sempre haverá pessoas que erguerão as Escrituras e citarão passagens que condenam as relações entre pessoas do mesmo sexo. Diante disso, os que crêem na Palavra de Deus, educados na tradição bíblica, em posição antagônica ao texto literal proferido, devem de forma inteligente e consciente, ser capazes de encontrar na Bíblia ensinamentos sobre a homossexualidade que revelam a natureza da criação.
Tampouco, devem-se promover debates, discussões e/ou retaliações com o objetivo de mudança de pensamento de cristãos conservadores e fundamentalistas que usam a Bíblia como afirmação completa e definitiva contra a homossexualidade, – mesmo porque o próprio Jesus disse que "não devemos atirar pérolas aos porcos porque eles vão apenas pisá-las" (Mateus 7:6) -, mas, sim, devemos ajudar a formar opiniões conscientes e a instaurar a conduta de fé homossexual cristã.
Em suma, creio também que sempre haverá o preconceito e a discriminação aos homossexuais, pois há no cristianismo uma tradição de séculos de proibição, medo e culpa. Contudo, se faz necessário que você encare isso como fato. Não perca a dignidade, sendo submisso perante os ultrajes cristãos, contudo, lide com isso de forma sábia.
* Tom Mayan é Graduado e Pós-Graduado na área de Ciências da Saúde. Possui conhecimentos em Psicologia, é Gay e Cristão, Colunista do site "Maringay" e autor do livro que retrata a homossexualidade e o Cristianismo chamado "Ser Gay e Cristão é possível!" – Site do livro: http://www.sergayecristaoepossivel.com/; Contato: sergayecristaoepossivel@hotmail.com