"É melhor ter 122 casos registrados, do que não ter nenhum." Foi assim que, em entrevista exclusiva ao site A Capa na tarde desta quinta-feira (10/04), o fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott falou sobre as crítica do relatório anual da entidade sobre o número de mortes de homossexuais que acontecem no Brasil.
"Sabemos que são casos sub-notificados. Isso deveria ser função do Estado, do Ministério da Justiça, de criar um banco de dados sobre crimes homofóbicos no país. Fazemos o levantamento há 30 anos, inclusive com críticas do próprio movimento GLBT. Já fui chamado até de adorador de cadáveres", diz Mott.
As palavras do militante não são sem motivos. Na última terça-feira, a Ong divulgou relatório que consta um total de 122 homossexuais e travestis assassinados no Brasil no ano passado. O número equivale a um aumento de 30% em relação a 2006. Seguindo os dados da Ong, a cada três dias um homossexual morre assassinado no país por crimes de homofobia.
"Mas pode ser um número maior. Talvez [seja assassinado] um [homossexual] por dia", diz Mott. "Não há levantamento de quatro estados, por exemplo. Muito me surpreende que no Rio Grande do Sul não tenha morrido um homossexual", continua o militante, explicando que o relatório é montado a partir de um clipping de notícias que saem na imprensa, em jornais e internet. "Há também casos que não foram noticiados e ficamos sabendo no GGB por meio de correspondências que chegam até nós", finaliza.
Do total de 122 homossexuais assassinados, travestis chegam quase a 30% dos casos (27%). Gays correspondem a 70% e lésbicas a 3%. O levantamento encontra justificativa do pouco percentual de lésbicas assassinadas. "Pesquisas revelam que elas sofrem maior violência física e constrangimento moral dentro de casa, são muitíssimo menos assassinadas que os homens gays e travestis."
De acordo com o relatório, a Bahia é pela primeira vez o estado mais homofóbico do país, liderando o ranking com um total de 18 assassinatos. O Nordeste é apontado também como a região mais perigosa para os homossexuais. Um gay nordestino corre 84% mais risco de ser assassinado do que no Sul e Sudeste.
O Brasil é o campeão mundial de crimes homofóbicos, com média de mais de 100 homicídios por ano, seguido do México com 35 e Estados Unidos com 25. O levantamento não leva em conta crimes homofóbicos não-letais. Só neste ano, até a data de hoje a Ong já tem registrado 47 casos de assassinatos de homossexuais.
Como forma de combater ou minimizar essas estatísticas, o GGB desenvolveu em 2007 a cartilha "Gay vivo não dorme com o inimigo" com 10 dicas para não ser a próxima vítima de homofobia, como não aceitar bebidas de estranhos e escolher lugares como motéis e hotéis para programas.