Thiago Magalhães, 31, formado em Direito pela USP (Universidade de São Paulo), é dono do blog Introspecthive, espaço onde o moço fala sobre "comportamento, gastronomia, noite, viagens, cultura, universo gay", segundo o próprio. Na semana passada o rapaz lançou um post desabafando o seu descontentamento em relação à classe gay.
Adepto do lema "faça você mesmo", ele revelou que iria fazer uma cartilha junto a outros cinco blogueiros. Os blogueiros envolvidos são: Gustavo, Cris, Daniel, BHY e Isadora.
O grupo espera que, com essa cartilha, os gays possam tomar "atitudes úteis, construtivas" e que tenham "efeito social positivo". Thiago acredita que há muitos homossexuais que estão se lixando para a questão de direitos, mas também acredita que há pessoas que gostariam de fazer algo. "A cartilha é para essas pessoas", explica.
Além da ideia da cartilha, Thiago Magalhães fala um pouco sobre política, direitos, criminalização da homofobia e mais. Confira.
Gostaria que você explicasse ao nosso leitor a ideia da cartilha.
A ideia da cartilha é mostrar o caminho das pedras para que essas pessoas, sozinhas, tomem atitudes úteis, construtivas, que tenham efeitos sociais positivos, e ajudem a melhorar a nossa situação. É uma iniciativa independente, feita por seis blogueiros, desvinculada de interesses de grupos ou partidos, e que não concorre ou compete com o trabalho da militância. Não sou o dono da verdade, nem tenho a pretensão de ditar regras para ninguém. Estou apenas fazendo algo para somar, aproveitando essa visibilidade dos blogs para provocar uma discussão saudável, que estimule outras pessoas a sair da inércia.
Pode adiantar algumas ideias da cartilha?
São sugestões de pequenas atitudes que possam ser adotadas e incorporadas ao cotidiano. Ideias realistas, viáveis, que saiam do papel. A intenção é que as pessoas percebam que podem fazer a diferença, que isso está ao alcance delas, e se sintam encorajadas. Tem posturas essencialmente pessoais, ligadas à autoestima, às relações com a família e os amigos, à busca por informação, ao consumo consciente, e outras que, mesmo sendo individuais, envolvem algum tipo de participação social, como o trabalho voluntário, a colaboração com ONGs ou mesmo o contato com parlamentares.
Você acompanha o trabalho da militância? Já foi a algum encontro de algum grupo? Você participou da Conferência GLBT (à época) Municipal e Estadual de São Paulo? Qual a sua opinião sobre o Fórum Paulista LGBT? Como você classifica a perseguição que a senadora Fátima Cleide (PT-RO) está sofrendo?
Acompanho o trabalho da militância lendo as notícias relacionadas, quando são publicadas na Folha de S. Paulo e nos portais Mix Brasil, A Capa e Parou Tudo. Nunca fui a reuniões de grupos ativistas, nem aos eventos que você citou, e não estou a par do episódio envolvendo a relatora do PLC 122. Minha vida é outra. Contudo, isso não me descredencia ou desqualifica para produzir uma cartilha. Os cidadãos comuns têm todo o direito de se mobilizar para mostrarem o que pensam e protegerem uns aos outros, sem necessariamente aderirem a grupos ativistas. Quero mostrar com a cartilha que não é preciso se filiar a um grupo ou frequentar eventos para fazer o que está ao alcance de cada um.
O meio gay é alienado politicamente?
A classe média gay é tão politizada ou despolitizada quanto a classe média hétero. Não somos mais alienados porque consumimos moda, cuidamos do corpo ou tiramos a camisa na boate. Essa associação automática do universo gay com a futilidade é perigosa. Observo que no meio que frequento existe sim uma apatia, um individualismo. Muitas pessoas realmente não estão nem aí para nada. Mas outras se importam e ficariam felizes em ajudar a causa, e foi para elas que resolvi bolar a cartilha. Esse individualismo e falta de participação não são exclusividade do meio gay, são parte da mentalidade contemporânea, têm a ver com um processo de esvaziamento do debate político a partir do regime militar, enfim, têm uma série de explicações que nada têm a ver com sexualidade. Sexualidade é algo mais básico e simples do que isso.
Em sua opinião, qual partido político está mais próximo da comunidade gay?
Como não acompanho de perto as atividades de cada partido, não quero correr o risco de ser injusto. Sei que boa parte deles, não só os de extrema esquerda como também PT e PSDB, têm subgrupos ligados à diversidade sexual. Mas eu, que estou fora do jogo político, não enxergo nenhum partido como realmente próximo da comunidade gay.
Você frequenta a Parada Gay?
Vou há uns oito ou nove anos. Ainda não desisti dela, mas não sei dizer por quanto tempo vou continuar. Só insisto porque acho que, se ela está desvirtuada, não é abandonando o barco que alguma coisa vai mudar. Em entrevista, o diretor-geral Manoel Zanini disse que acha que o peso político da Parada é muito maior hoje, com os tais três milhões. Eu já penso o contrário: não acho que a quantidade de gente na rua soma ao movimento, ela até o enfraquece. O recado político do "vejam como somos muitos" foi dado quando atingimos o primeiro milhão, nós realmente causamos impacto, mas a sociedade já absorveu a mensagem e isso não faz mais tanta diferença. "Dançar, cantar e celebrar" não é protesto. O lado lúdico é necessário, mas não basta, não leva a conquistas nem provoca uma mudança de mentalidade. Não sei qual a saída. Talvez deixar o trecho da Paulista para a militância discursar, abrir espaço para protestos e reivindicações, e ligar a música dos carros ao dobrar a Consolação, deixando a festa rolar a partir daí. Seria menos jogação, o povo da bagunça grátis acharia chato, viria menos gente? Tudo bem, não é do volume desse povo que a Parada precisa hoje. E festa, os clubes fazem muito melhor.
Você acredita em ações coletivas?
Acredito que, em algumas situações muito específicas, a classe média em geral é capaz de se indignar, se mobilizar e pensar coletivamente. Mas, quando o assunto são as questões LGBT, sou meio cético. Acho muito difícil querer provocar uma convergência de vontades em um grupo que é tão diverso e plural, e também tão desunido, que tem mil preconceitos entre si. Quando eu escrevi que "a esperança não está nas atitudes coletivas, e sim nas individuais", quis dizer que não dá para a gente ficar esperando uma união que pode simplesmente não acontecer. Por isso, defendo ações individuais, ao estilo "faça você mesmo". Que podem se multiplicar e acabar tendo um efeito coletivo. Mas cada um por si, sem prestar contas e nem depender de ninguém. É importante que cada um se sinta impelido a ter sua própria iniciativa, ao invés de ficar esperando eternamente pelos outros.
E sobre a mídia gay, ela ajuda a despolitizar a comunidade gay? Qual a sua opinião a respeito?
Não podemos fazer dela culpada. O problema é anterior. Se a "comunidade gay" é despolitizada, não é por causa da mídia gay, mas porque não lê jornal mesmo, da mesma forma que muitos segmentos héteros também não. É um erro pensar que basta ler os sites e revistas gays para estar suficientemente informad