Mammy foi viajar no final de semana e me fez jurar que ficaria em casa de babá por conta do nosso filho (o poodle, que adotamos em 2002). Ele, como todo cão da raça, odeia ficar sozinho e fica depressivo quando isso acontece. Tudo bem, não foi trabalho nenhum, fiquei em casa e dei uma de Super Nanny! É nessas horas que percebo que um cachorro é uma máquina de fazer cocô…
De volta de seu passeio super bucólico, ela veio me contar: "Você não sabe o que sua tia veio me perguntar…".
Colocando uma bela fatia de bolo de brigadeiro no prato que titia mandara para mim, perguntei: "O que ela perguntou?" "Ela me contou uma história de uma vizinha que está desconfiada que o filho é gay…" – ia contando mamãe enquanto eu devorava o bolo – "…e que as coisas lá não andam nada bem, que a vida deles está um verdadeiro inferno. Ai sua tia vira e me pergunta assim: ‘Mas quando tem dois homens juntos, quem é a mulher?’ Eu (minha mãe) respondi que mulher é quem tem a rachada, que isso não existe entre dois homens…"
Claro que minha mamãe, uma pessoa muito fina e delicada, não usou essas palavras. Estou aliviado um pouco. Mas fiquei muito contente em saber que mamãe está minimamente informada sobre o assunto. Pra ela, está claríssimo como água que numa relação homoafetiva esta questão de papel sexual é pouco importante ou inexistente e o que vale é o sentimento e a atração que ambos sentem. Quando ela respondeu pra minha tia que não existe "a mulher" e que mulher é quem tem a caixinha de pandora, ela acabou com o mito da dicotomia bofe/bicha, tão presente nos anos 70 e 80…
É evidente que ser mulher ou ser homem vai além da questão biológica e de ter determinada genitália. Minhas amigas transexuais que o digam. Mas esta questão está na página dois da apostila sobre sexualidade, orientação sexual e identidade de gênero que eu estou fazendo pra ela. Tenho orgulho dela. Uma mulher de 62 anos, de origem simples e pra quem a vida não deu tantas oportunidades assim, saber lidar com questões que ainda são tabus pra muita gente é escândalo, simplesmente ESCÂNDALO!
É por isso que eu sempre insisto que, o preconceito, em grande parte, é culpa nossa. É falta de conversarmos abertamente com quem está ao nosso lado, falta de falarmos de nossos sentimentos e mostrarmos que não somos nem melhores nem piores… Apenas diferentes! Eu, por exemplo, sempre que conheço alguém já deixo claro que sou gay e nunca tive problemas com isso. Evito as piadas preconceituosas e conquisto o respeito das pessoas… E se algo estranho acontecer no caminho, não me furto de esclarecer quaisquer dúvidas. Como diz um ditado: "o preconceito é vizinho da ignorância e frequenta o mesmo clube da maldade".
Ainda bem que mammy voltou… Chega de catar cocô!
Beijo, beijo, beijo… Fui…