Foi ao ar ontem, segunda-feira (08), no programa CQC (Band, 22h), uma reportagem que visava investigar parlamentares, psicólogos e pastores que trabalham em prol da “cura” da homossexualidade. A matéria exibida ficou entre o caricato, o desserviço e o sofrível. Porém, leva a audiência um assunto que nada tem de engraçado, mas ainda assim foi tratado pelo programa em questão de forma cômica, quando na verdade o assunto é sério.
A reportagem já inicia problemática. A abertura é realizada pela repórter Monica Iozzi, que declara, sem citar fontes, de que há indícios genéticos para explicar a homossexualidade, para assim, justificar a sua contrariedade à prática da cura da homossexualidade. Na sequência a jornalista pergunta ao telespectador se este acha que a homossexualidade é derivada do meio em que o sujeito vive, ou se tal característica é inata.
Cientificamente nem um e nem outro são comprovados. Mas isso não importa. O que se deve perguntar é: por que os meios de comunicação, cientistas, psicólogos e religiões insistem na tese da cura da homossexualidade? E por que não se debruçam na cura para a heterossexualidade? Será que todo mundo nasce heterossexual ou são influenciados pelo meio em que vivem? Desconfio da segunda hipótese.
O drama é que a sociedade foi naturalizada ao longo do tempo como heterossexual. Esta “naturalização” foi construída ao longo dos séculos e ganhou força no final do século XVIII. É a partir do século XIX quando Estado, medicina, polícia e Igreja se unem para disciplinar e higienizar a sociedade. E é neste momento histórico que a união civil entre pessoas será pensada enquanto mecanismo reprodutor com status oficial. A partir de então os comportamentos desviados da conduta reprodutora ganham status de “anormalidade”, “criminalidade” e passíveis de tratamento ou reclusão prisional.
Não é a toa que falar do sexo e de como se fazer o sexo é uma obsessão desde o século XVIII. E é a partir desse excesso de sexo (falado) que se vai disciplinar as populações no que diz respeito a como se comportar sexualmente. Seja entre quatro paredes, seja nos espaços públicos. O layout construído ao longo do tempo é o da Matriz Heteronormativa e qualquer comportamento fora dos códigos imposto pela matriz são dignos de correção e até mesmo eliminação.
Falar em cura da heterossexualidade é tão inócuo quanto falar sobre a cura da homossexualidade. O que se precisa almejar é uma sociedade que conviva e coexista com as várias manifestações de sexualidade e gênero. Até por que, tais manifestações vão muito além do binômio homo – hetero. E obviamente o primeiro passo a se fazer é reformular o nosso sistema educacional e pedagógico e pensar ambos para a libertação dos sujeitos socialmente e sexualmente, e não para a repressão e condicionamento heteronormativo.