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A Decadência de Myriam Rios: de atriz mediana a política homofóbica

Está no auge a polêmica envolvendo a ex-atriz Myriam Rios. Como já é de conhecimento público, a deputada estadual (PDT-RJ) proferiu um discurso onde defendeu o direito de demitir funcionários homossexuais, além de relacionar perigosamente os gays com atos de pedofilia e crime.

A situação surpreendeu a mídia e a classe artística, além de chocar toda uma geração, de pessoas entre 30 e 45 anos, que cresceram assistindo com simpatia à atuação da então atriz Myriam na TV. A imagem pública dela sempre foi agradável, e ela chegou a ser chamada por Caetano Veloso de "a primeira-dama da MPB" – obviamente, por ter sido esposa de Roberto Carlos durante dez anos.

Para entender Myriam Rios, é preciso conhecer sua história. Nascida em Belo Horizonte no final de 1958, ela iniciou carreira artística ainda adolescente. Em 1976, com 17 anos, venceu um concurso de novas atrizes no programa de TV de Moacyr Franco, na Rede Globo.

Logo estava na novela "O Feijão e o Sonho", no mesmo ano, exibida pela emissora às 18h. Myriam e Lídia Brondi interpretavam as filhas adolescentes do casal protagonista. Sua carreira como atriz de TV começou a crescer. Ela atuou nas novelas "Escrava Isaura" (1976/77), "Duas Vidas" (1976/77), "Sem Lenço Sem Documento" (1977/78), "Pecado Rasgado" (1978/79), "Memórias de Amor" (1979), "Marrom Glacé" (1979/80), "Coração Alado" (1980/81) e "O Amor é Nosso!" (1981).

A essa altura, ela já era um rosto conhecido no Brasil. E um corpo também – afinal, posou nua para as revistas "Lui" (em 1978) e "Ele & Ela" (duas vezes, em 1979). Outra razão de sua fama aumentar foi, claro, o relacionamento com Roberto Carlos. O cantor chegou, inclusive, a comprar das editoras os direitos sobre esses ensaios fotográficos, para impedir a republicação das fotos.

Atualmente, tais revistas valem ouro em sebos – mas em compensação, LPs de vinil com coletâneas estilo "Disco Hits 76" custam R$1, e em pelo menos duas delas Myriam posa na capa: seminua, contracenando com uma motocicleta (foto).

No livro "Roberto Carlos em Detalhes" (de Paulo César de Araújo, publicado em 2006 e recolhido das livrarias por ordem judicial, a pedido do próprio Roberto Carlos), o autor fala sobre a relação da atriz com o Rei. O namoro começou em 1978, e tornou-se público no ano seguinte. Eles se casaram no final dos anos 70. Myriam tornou-se uma espécie de "Lady Di" brasileira, e passou a acompanhar o marido em turnês, shows e camarotes de Carnaval.

Como ela mesma mencionou, Roberto solicitava a presença da esposa ao seu lado, priorizando a própria carreira dele. E assim ela fez: em 1981, foi anunciado que a novela "O Amor é Nosso!" seria sua despedida da profissão.

Apesar disso, ao longo dos anos 80 ela voltou a aparecer: atuou nos filmes "A Filha dos Trapalhões" (85, com o quarteto humorístico) e "Banana Split" (87, onde fazia uma moça meio "piranha", no início dos anos 60), e nas novelas "Tititi" (85/86) e "Bambolê" (87/88) – em ambas, contracenando com o ator Paulo Castelli, já que Roberto Carlos só confiava no rapaz para fazer cenas de beijos com sua então esposa.

Também foi apresentadora do musical "Globo de Ouro", ao lado do falecido Lauro Corona (1957-1989). O que pensaria Lauro, se estivesse vivo, da atual opinião de Myriam sobre os gays?

Em 1989, Myriam se separou de Roberto Carlos. Novamente, como ela declarou no livro citado, estava se sentindo frustrada, pois queria ter filhos, mas o Rei não concordava. Queria retomar sua carreira de vez, e ele também era contra.

Uma vez separada, ela tentou voltar à tona. Atuou na minissérie "Floradas na Serra" (91, na extinta TV Manchete) e "Irmã Catarina" (96, na CNT, interpretando uma freira). Conseguiu voltar para a Globo, onde atuou em "Era Uma Vez…" (98), "Aquarela do Brasil" (2000) e "O Clone" (2001, atualmente em reprise no "Vale a Pena Ver de Novo").

Ao longo desse período, conseguiu enfim ter filhos: um com o médico Edmar Fontoura, e outro com o ator André Gonçalves – com quem contracenou em "Era Uma Vez..".

Aí viria a mudança: em 2002, converteu-se à Renovação Carismática Católica, entrando assim para o time de ex-atrizes dos anos 70 e 80 que seguem o mesmo trajeto: posam nuas, fazem filmes "ousados", atuam na TV, e depois que são desprezadas pela mídia, vão buscar refúgio em religiões austeras e repressoras, e algumas viram até bispas, pastoras e pregadoras. Exemplos: Darlene Glória, Simone Carvalho, Leila Lopes (1959-2009), Luíza Tomé…

Depois de se converter, Myriam passou a atuar em prol da religião. Apresenta programas de TV, rádio e internet da comunidade Canção Nova, lançou CDs com material religioso, e o livro "Eu, Myriam Rios", de 2006 – editado também pela empresa Canção Nova.

Foi eleita deputada em outubro de 2010, com o apoio de uma votação expressiva coordenada por Wagner Montes – também ele, figura dos anos 70 e 80, ex-ator, ex-jurado do "Show de Calouros" do SBT, atualmente apresentador de TV, e que costuma também disparar opiniões bastante retrógradas.

Enfim, depois de todo esse histórico, fica mais fácil entender o disparate atual de Myriam Rios, uma ex-celebridade que volta à mídia de forma pouco louvável. Vale lembrar que o vídeo no YouTube com Myriam Rios fazendo o seu discurso homofóbico, além de tudo, impede os usuários de postarem comentários. Mais uma atitude despótica das mídias religiosas, que pregam a liberdade de direitos e de expressão para todos, menos para aqueles que querem criticá-las. É a velha história: todo mundo é livre, desde que seja a favor deles.

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