A Bispa Darlene Garner, natural dos Estados Unidos, está de passagem pelo Brasil para o reconhecimento da Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo, uma igreja que aceita homossexuais, como membro da FUICM (Fraternidade das Igrejas da Comunidade Metropolitana) e o recebimento do Pastor Cristiano Valério como clérigo da fraternidade.
Darlene nasceu em Columbus, Ohio (EUA). Quando criança foi batizada na Igreja Batista, porém, anos mais tarde teria de abandonar a igreja por conta do machismo que viria a sofrer por se divorciar. É nessa época que se entende enquanto lésbica, no ano de 1973. Três anos depois torna-se membro da ICM Washington.
O seu primeiro trabalho enquanto pastora seria no ano de 1988 pela ICM Filadélfia, depois passaria pela filial da Virginia do Norte, em Fairfax. Desde 1993 Darlene integra o Conselho de bispos da ICM. Ela é responsável pela Região 6 que corresponde a América Central e Latina, Antártica e os estados norte-americanos Arizona, Nevada, Novo México, Sul da Califórnia e Texas.
A atuação da Bispa Darlene vai além da religião. Como ela própria afirma, sua atuação é "político-religiosa". Darlene Garner é uma das fundadoras da Coalizão Nacionial de Lésbicas e Gays Negros (EUA), esteve presente no primeiro encontro histórico entre o movimento LGBT e a Casa Branca.
Em visita a sede da ICM-SP a Bispa bateu um papo com a reportagem do A Capa e aproveitou a oportunidade para mandar um recado aos LGBT que se encontram em religiões hiomofóbicas: "Cristo deseja que vocês se libertem e saiam dessas religiões opressoras e hipócritas". Confira na íntegra a entrevista exclusiva com a Darlene Garner.
Como você vê a presença da ICM no Brasil em três estados (SP, RJ e BA)?
Sinto-me muito feliz, é muito importante para os LGBT e também para os marginalizados, que somos todos nós, a presença das igrejas inclusivas. Pois, as religiões cristãs excluem a gente.
De que maneira é possível diminuir a homofobia?
Com a organização local, lutando pelos nossos direitos. Jesus não discrimina e Direitos Humanos e Igreja não se distingüem. Assim atuamos no âmbito religioso e político, pois também é preciso fazer a luta eclesiástica.
Qual a sua opinião sobre os religiosos homofóbicos?
O medo é algo forte, e alguns líderes tomam medo ao invés de liberdade. Por conta desse medo é difícil abrir esses corações. A discriminação por parte da Igreja é morte, pois exclui e isola pessoas. É importante que esses líderes aceitem Deus.
E a atuação das bancadas políticos/religiosas?
Às vezes a sociedade religiosa está do lado da sociedade civil, e às vezes do lado da igreja. Portanto, acredito que é importante que se aprove as leis (anti-discriminatórias) para que se toque o coração. E para esses religiosos-políticos, eu não posso fazer nada mais a não ser orar por eles.
Como você entrou e conheceu a ICM?
Em 1976, eu era da igreja Batista, mas me divorciei e eles não aceitavam mulheres separadas. E nessa época eu ainda não sabia que era lésbica, eu sabia de outra forma. Depois, aos 26 anos eu entrei numa relação com uma mulher, pela primeira vez me senti completa. Aí, num dia eu recebi um chamado de Deus e iniciei os meus trabalhos e estudos na ICM. O meu primeiro ministério foi o político na Filadélfia.
Por conta da ICM ter nascido nos EUA, como foi na época do surgimento da AIDS, vocês sofreram perseguições?
Nos anos 80 nós perdemos metade dos nossos clérigos por conta da AIDS. Mas o que aconteceu? Nós fomos os primeiros no mundo a fazer um encontro/discussão sobre a AIDS. Foi muito difícil, até dentro da própria ICM houve preconceito com quem era soropositivo, mas a partir daí começou-se uma nova luta.
As religiões são homofóbicas?
Sim, muito homofóbicas. As pessoas LGBT dentro dessas igrejas tem que saber que há opções, que Deus está esperando para lhes dar liberdade, para que façam o que quiserem, que saiam da opressão. Deus chama essas pessoas a saírem da escravidão da hipocrisia.
Como lidar com essas lideranças religiosas e homofóbicas?
É preciso aprender a dizer a verdade àqueles que estão em posição de poder, inclusive aos líderes religiosos das igrejas homofóbicas. Eles ainda não sabem, mas são nossos amigos.