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A família Restart

De uns tempos pra cá tenho me debruçado e discutido com amigos a respeito da atual geração, que vai dos 15 aos 18 e que surgiu no fim dos anos noventa. E um fato chamou a minha atenção e foi o tal show cancelado na Fnac. Só uma pessoa muito fora da realidade organizaria um show com uma banda fenômeno para um teatro onde cabe trezentas pessoas. Caos óbvio. Apareceram três mil jovens da Família Restart.

A reportagem do jornal Folha de São Paulo (veja reportagem aqui) fez um vídeo com depoimentos dos tristes adolescentes que não poderiam ver os seus jovens ídolos.  Essa turma retratada na matéria nos revela um sintoma muito interessante e que traduz muito da apatia e alienação da atual geração no que diz respeito a exigir os seus direitos.

Difícil é apontar a causa do problema. Mas a tentativa é válida.

Assim como as gerações anteriores eles possuem o seu uniforme. Calça laranja ou roxa, óculos com armação branca ou amarela, cabelo na linha David Bowie e Chitãozinho e Xororó, tênis cano alto e a música é o emocore. A bíblia deles é a revista Capricho. Impressionante como essa publicação atravessou gerações e uma década e conseguiu se manter como guia para o público ao qual é destinado, já citado no primeiro parágrafo.

Outro fator observável é a questão da sexualidade. Aparentemente essa geração está mais aberta para experimentação. Mas, é só aparentemente. Pois, se formos analisar os discursos de seus ídolos trata-se de um novo TFP, com uma roupagem moderna, com uniforme novo. As composições das bandas NX Zero, Restart, Caps Lock e Cine giram todas em busca de um amor único, para o resto da vida e cor de rosa.

Com os exemplos acima já podemos afirmar que tratamos de uma geração imediatista, individualista, conservadora só que menos sectária e completamente ausente do debate político que marcou a juventude do fim do século 20, principalmente na capital paulista.

É verdade que nos anos 90 as bandas nacionais eram uma cacura, muitas em fim de carreira ou tentando se restabelecer com os acústicos da vida. Porém, a cidade de São Paulo vivia um debate político bem saudável. Era o auge da disputa entre Malufistas e Martistas, aconteceu que em 2000 Marta Suplicy se elegeu para prefeita de SP. Era o fim da era Pitta – Maluf.

Nessa época foi criada a Secretaria da juventude, que atualmente foi destruída pela atual gestão municipal. Um projeto balançou a cidade: Por uma São Paulo Melhor. Entre as varias frentes duas foram muito importantes: as festas que envolviam as casas noturnas da Baixa Augusta e também o clube Love.E, onde havia cursos de Dj gratuito e ação com os grafiteiros da cidade.  A juventude foi chamada a participar. Outra realização interessante foi o acampamento da juventude que aconteceu no Parque da Mooca e reuniu mais de mil jovens de todas as zonas da cidade. Um final de semana intenso e repleto de debates artísticos e políticos.

Onde quero chegar com isso? Essa foi uma tentativa da gestão retrasada da cidade de São Paulo  fazer com que o jovem participasse das questões da cidade e com isso usou da arte que é o meio mais revolucionário para se transformar mentes. Mas essas iniciativas acabaram, porém deixaram respingos que ainda perduram na atual gestão. Porém a participação adolescente hoje é nula.

Os jovens não são mais convidados a participarem, apenas a consumir e a pensar em como vai ganhar dinheiro. Dizem que hoje estamos sob a geração y, onde tudo é pra ontem. Será? Particularmente não vejo com bons olhos a molecada de hoje. Ainda mais quando pensamos que daqui dois ou quatro anos eles estarão aptos a votar e a pensar o espaço que habitam.

A partir de que valores irão apertar as teclas das urnas digitais?

PS: Para melhor entender esse texto veja o filme "As melhores coisas do mundo" 

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