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“A homofobia precisa virar crime”, diz jovem agredido na avenida Paulista

O estudante de jornalismo Luis Alberto Betonio, 23, foi a primeira vítima da onda de violência homofóbica que chocou o país nas últimas semanas.

O ataque aconteceu em plena avenida Paulista, símbolo de São Paulo e palco da maior Parada Gay do mundo. No último dia 14 de novembro, o estudante e outros dois amigos caminhavam pela Paulista quando se depararam com um grupo de cinco jovens andando na direção contrária. De forma gratuita e repentina, um dos rapazes, menor de idade, agrediu Luis no rosto com uma lâmpada em bastão. Os outros agressores, entre eles um maior de idade, também atacaram o estudante com socos e pontapés.

Uma tragédia maior foi evitada porque um segurança de um prédio vizinho correu para ajudar Luis, que chegou a desmaiar após o ataque. Os agressores conseguiram fugir, mas foram presos mais tarde pela polícia. Os jovens, todos de classe média, respondem por tentativa de homicídio e formação de quadrilha – os menores de idade estão internados na Fundação Casa e o maior responde o processo em liberdade.

A onda de homofobia que assolou a maior cidade do país deixou ainda mais vítimas alguns dias depois. Outros dois ataques foram registrados na mesma região – o mais recente aconteceu na Frei Caneca, considerada rua "gay" de São Paulo, no último dia 4 de dezembro. Neste caso, um designer foi agredido com um soco inglês por alguém que se suspeita fazer parte de um grupo de skinheads.

Nesta entrevista ao site A Capa, Luis conta o que exatamente aconteceu naquele dia 14 de novembro e defende que a criminalização da homofobia é necessária para evitar que outros crimes da mesma natureza voltem a ocorrer no futuro.

O que você e seus amigos faziam na manhã daquele 14 de novembro?
Saímos de uma balada que fica perto da avenida Paulista e decidimos comer em uma lanchonete. Chegamos lá por volta das 5h30.

Como aconteceu o ataque?
Eu tinha outra opção para ir embora, podia ter descido até a avenida 23 de maio e embarcado em um ônibus, mas o caminho não me despertou segurança. Continuei na Paulista acreditando que estava seguro por ser uma avenida movimentada. Mas não fui muito feliz na minha opção. Estávamos conversando quando vi de longe um grupo de cinco garotos – um deles segurava nas mãos uns bastões, que até então não sabia que eram lâmpadas.

Você imaginava que aqueles 5 garotos pudessem agredi-lo ali, repentinamente, em plena avenida Paulista?
Em nenhum momento me senti desprotegido ao vê-los. Foi quando um deles passou por nós e gritou: "Óh". Não tive tempo de olhar para trás, ele acertou a primeira lâmpada no meu nariz. Por um momento pensei que fosse uma brincadeira, abaixei minha cabeça pensando que o que tinha no meu rosto fosse água, mas percebi que na verdade era sangue.

Ao me virar, levei outro golpe, me defendendo com o braço. Os outros quatro agressores riram da situação. Naquela hora não pensei duas vezes e fui para cima, acertando um chute no peito do garoto que me agrediu com a lâmpada. Quando estava para acertar o rosto de outro deles, ele me imobilizou com uma gravata, mas consegui me defender dos socos com os meus braços. Àquela altura os cinco já estavam desferindo socos contra o meu rosto e chutes no peito e barriga. Os agressores não se importaram com o fato de estarem em plena Paulista…
 
Os seus amigos também foram agredidos?
Apenas verbalmente. Após me agredirem, um dos garotos que estava me acompanhando ouviu um agressor explicar para o segurança por que havia agido com violência: "Eles são todos viados."

O segurança, aliás, conseguiu interromper a agressão. Essa ajuda foi decisiva para evitar uma tragédia ainda maior?
Depois que os agressores foram surpreendidos pelo segurança, ele me disse que se não interviesse eu tinha morrido. Acredito nessa hipótese, pois eles não iam parar de me bater. Agradeço muito a ajuda desse homem.
 
Qual é seu sentimento em relação aos agressores?
Estou confuso ainda, tenho raiva pelo fato de eles terem me agredido gratuitamente, por eles terem em suas mentes um pensamento mesquinho, por serem preconceituosos. Acredito que eles não possuem uma base familiar sólida e têm medo de se igualar às pessoas que são bem resolvidas.


Foto: Reprodução TV Globo

Como você está hoje? Quais foram as sequelas deixadas pela agressão?
Estou com algumas cicatrizes no rosto e a minha visão ficou comprometida por causa do gás da lâmpada. Estou sendo acompanhado por uma psicóloga, que tem me ajudado bastante neste momento.
 
Você pretende, pessoalmente, processar os agressores?
Não estou pensando nisso agora. Quero que os agressores respondam na Justiça.

Você voltaria a caminhar pela Paulista?
Voltaria a andar, não posso dizer que com a mesma tranquilidade.
 
Você acompanhou os últimos ataques a gays na região? O que acha que deve ser feito para acabar com essa onda de violência?
É repugnante toda essa onda de homofobia. Esta é a hora de protestar, de fazer algo acontecer. Após a minha agressão, houve uma manifestação digna de aplausos, que reuniu 200 pessoas. É triste saber que manifestações como essa em prol de uma lei contra a homofobia motive um número pequeno de pessoas, comparadas com outras oficiais que movimentam milhões. Não podemos ficar parados, devemos agir em manifestações todos os dias se possível, lutar por um ideal e não fazer do protesto uma forma de alavancar números para o turismo. A homofobia precisa virar crime.

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