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A homossexualidade está presente nas pinturas rupestres da Serra da Capivara

Muito antes da invenção da religião, a homossexualidade já existia e ao invés de ser reprimida, era retratada nas pinturas rupestres

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Há algumas semanas eu visitei um tesouro pré-histórico, a Serra da Capivara. A viagem me trouxe muitas informações a respeito da vegetação do lugar, a evolução climática do planeta, as eras geológicas, a formação do homem e a sexualidade humana.
 
É impressionante estar diante de um desenho feito por uma espécie de homem numa rocha há milhares de anos atrás. É de cair o queixo imaginar que essas pinturas nunca foram apagadas pela chuva, erosão ou até mesmo pela ação humana moderna. Quando eu penso que se eu colocar uma caneta sobre minha mesa, e for ao banheiro, na volta ela já não estará lá, a situação fica ainda mais chocante.
 
Sobretudo porque há mais de 1.300 sítios arqueológicos com estes desenhos na região datadas entre 10 e 12 mil anos. Em um sítio especialmente – porém não o único – há várias representações de cenas de sexo, uma espécie de kama sutra paleolítico, com imagens de sexo “papai e mamãe”, grupal, zoofilia e, minha maior surpresa na viagem, sexo homossexual. Nunca soube que havia representações tão antigas com essa temática.
 
A imagem que ilustra este texto é uma foto que eu tirei da parede que falei com várias formas de transar e o detalhe é da cena de sexo entre dois homens. A representação masculina nestes desenhos rudimentares se dá com a presença do falo e a feminina pela vagina, indicada pela circunferência no meio das pernas. O falo não aparece somente nas cenas sexuais, mas também de caça, por exemplo — demonstrando que as teorias de Freud não estão de todo erradas.
Ver esta imagem tão antiga mexeu muito comigo de diversas formas. Lembrei de todas as pessoas que dizem “antigamente isso não existia” e pensei a qual antigamente essa pessoa se referia, porque mais antigamente do que isso só se for com os dinossauros. Ou mesmo quem fala “no meu tempo, homem ficava com mulher”, provando que seu tempo nunca existiu e que, enquanto existirem seres humanos, vai continuar não existindo.
 
Também imaginei como estas pessoinhas (eles não passavam de 1,50m) deviam viver sem ligar a mínima para como cada um exercia sua sexualidade e como as festas deles deviam ser animadíssimas, pois abunda de pinturas que parecem verdadeiras orgias livres. Explorar o sexo também fez o ser humano o que ele é hoje.
 
Não dá para você ser pedante diante dessas pinturas. Nelas estão contidas toda a nossa pequeneza e perecibilidade. Ver aqueles dois homens na intenção sexual – o amor só seria inventado milênios depois – foi mais forte do que a linda imagem do “beijo”. Também há um desenho do que parece ser um beijo, mas mesmo este não é total certeza de que era isso que estava representando.
 
O amor/beijo precisa da nossa interpretação artificial da imagem, diferente da relação/atração sexual entre aqueles dois homens que é objetivo. E só para esclarecer, aqui uso “artificial” no sentido de tudo o que é criado pelo homem e que não se encontra na natureza sem a sua atuação, uma questão antropológica, digamos assim.
 
Antes mesmo que fosse definida, explicada ou justificada. Ela sempre existiu e a humanidade nunca acabou por causa disso. A gente não devia se surpreender com este fato, mas ainda o fazemos. Por isso eu amo olhar para o passado e por isso eu agradeço a oportunidade de que ele ainda esteja aqui ao nosso alcance.
 
Texto:Ítalo Damasceno
Fonte: Metrópoles
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