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A invisibilidade e o silêncio

Aprendemos que nosso lugar na sociedade é o privado, a casa, o quarto, o doméstico e o silêncio. Com isso, a invisibilidade das mulheres na sociedade é algo comum e o silêncio continua.

Desta forma, muitas de nós, quando estamos em situação de violência, nos deixamos ficar na invisibilidade e no silêncio, sem denunciar, sem gritar, aceitando aquela situação como cotidiana em nossas vidas e, ainda, nos sentimos culpadas por esta situação e a denúncia é uma opção negada.

A maioria das mulheres brasileiras já sofreu ou sofre violência doméstica ou sexual. O número de denúncias feitas nas DEAM – Delegacias Especializadas no Atendimento da Mulher é inversamente proporcional ao número de mulheres agredidas. Mas a maioria não se dá conta que vive uma situação de violência e, ainda pior, quando se dão conta, muitas delas se culpam. Mas de onde vem essa culpa?

A culpa é um sentimento que se apresenta à consciência quando alguém avalia seus atos de forma negativa, sentindo-se responsável por falhas, erros e imperfeições. Sendo assim, a culpa que a maioria das mulheres se atribui vem do fato de achar que a violência sofrida é derivada de seus erros nos relacionamentos, de não fazer nada certo, enfim, de um sentimento comum em muitas de nós de considerarmos que o erro é sempre nosso. Talvez esta seja uma herança da cultura judaico-cristã, que nos ensinou o significado da culpa e do pecado e que também nos ensinou que as coisas são ou certas ou erradas.

Mas quando falamos em violência doméstica ou sexual acreditamos que isto não tem nada a ver com o nosso mundo, com nós lésbicas, pelo contrário, a violência entre mulheres lésbicas é tão alta quanto entre casais heterossexuais, e isso se dá porque, apesar de mulheres, vivemos num mundo onde o machismo é tão enraizado que aprendemos dentro de casa a reproduzi-lo.

Nós lésbicas carregamos a culpa de vivermos um relacionamento não esperado pela família e a sociedade. Tememos a denúncia porque acreditamos que se a denúncia for feita não será acolhida, não terá amparo legal nas delegacias das mulheres e, tampouco, será bem recebida num ambiente que geralmente nos hostiliza pela nossa sexualidade.

Invariavelmente, as instituições da sociedade não nos atende da melhor forma e o foco deixa de ser nossa denúncia e passa a ser nossa sexualidade. As instituições da sociedade só irão mudar quando nos fizermos visíveis pela afirmação, assim como fazemos nas paradas, sem medo e com orgulho de nos afirmamos.

A violência contra as lésbicas é ato contínuo na vida de muitas de nós, sofremos violência em casa quando contamos aos nossos pais que somos lésbicas, sofremos violência quando não contamos, sofremos violência quando saímos de casa e afirmamos o que somos, sofremos violência em nossos relacionamentos e esta violência não aparece nas pesquisas, não aparece nos boletins, não aparece na compilação de dados de violência contra as mulheres…

Se você sofre violência, há uma série de organizações não governamentais que podem ajudá-la, não hesite em procurar ajuda.

Locais onde buscar ajuda:

CIM – Centro Informação Mulher:
Praça Roosevelt, 605, Consolação – São Paulo – Tel. 3256-0003

CFL – Coletivo de Feministas Lésbicas:
cflbrasil@uol.com.br

Casa da Mulher Lilith:
Rua Paratiquara, 33, sala 4, Vila Alpina. Telefone: 2917-3710.

Para outras cidades, acesse:
http://www.violenciamulher.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/index.shtml

E para todo o Brasil, se você é uma mulher que está vivendo uma situação de violência e quer romper o silêncio e não sabe onde buscar ajuda, ligue 180, Central de Atendimento à Mulher. Ligue de qualquer lugar do Brasil e a qualquer hora. Denuncie e busque orientações.

Para buscar uma delegacia, acesse: http://www.violenciamulher.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/index.shtml

E para acessar o guia de serviços que atendem a mulher em situação de violência: http://www.violenciamulher.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/index.shtml

* Irina Bacci é coordenadora geral do Coletivo de Feministas Lésbicas.

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