A palavra "sustentável" vem aparecendo constantemente há mais ou menos cinco anos, e não só em têxtil e vestuário, mas em todos os outros nichos da produção. No entanto, costumamos ser meio lerdos quando a questão é mudança de velhos hábitos – com isso, corremos o risco de banalizar uma ideia que é uma necessidade, ou seja, se desenvolver economicamente e preservar o meio ambiente. Não adianta espernear contra o consumo e o mercado, porque as pessoas precisam deles. Mas é inegável que estamos em uma fase de questionamentos com a qual é difícil lidar.
A dificuldade é que o problema afeta aquela que é a força motriz da moda – a renovação da oferta o mais rápido possível. A primeira saída na cabeça dos produtores então é criar coleções com "apelo eco", ou seja, roupas de tons neutros e fibras naturais que esteticamente se relacionam com o conceito eco. No entanto, a produção de fios, tecidos e roupas é tão complexa, que mesmo algumas dessas propostas são estratégias de marketing.
Isso me lembra um "causo": quando estava no primeiro ano da faculdade, e o tema "sustentabilidade" já era o mais citado e eu estava fazendo um trabalho sobre, lembrei que tinha visto, pouco tempo antes, um criador "x" que havia feito uma coleção com um tecido que normalmente não era usado no vestuário por suas características rústicas. A novidade é que ele tinha desenvolvido um método para beneficiar (alterar as propriedades originais) e tingir esse tecido de várias cores.
Procurei pelo número, liguei para ele e pedi para ter algumas amostras, com o que ele concordou e eu atravessei a cidade para buscá-las e… ele furou. Simplesmente, não apareceu. Então, liguei para a empresa que comercializaria o tecido, e soube pelo representante que eles haviam cancelado o comércio do produto porque os processos químicos não se encaixavam no conceito eco. Resumindo: embora o resultado final remeta ao que imaginamos como ecológico, os processos anteriores podem ser tão poluentes quanto aos daquela roupa colorida e tecnológica.
Apresentar modelos feitos de embalagem tetra-pak, por exemplo, também não chega a ser funcional. Outra balela que ouvi outro dia é o discurso "isso é sustentável porque um grupo de 100 artesãs fez". Ótimo, é isso aí, mas quem te disse que fábricas não empregam também? A intenção é boa, o projeto, maravilhoso, o discurso para vender que deixa um pouco a desejar.
Daí você, mero consumidor pensa: e agora? Como conhecer tudo sobre o produto que compro e ainda assim, cuidar da minha vida? Calma, até porque, quem tem que repensar todo esse esquema é o produtor, sim, isso mesmo, os profissionais dentro de seus campos. E logo, não vai adiantar somente encher vitrines de calças cáquis, mas reunir ideias, mesmo as que, a princípio, parecem incoerentes com o modelo de negócios bem sucedido porque como saber se depois não vão configurar novos mercados? Algumas ideias que já vi por aí:
Circular: mais sustentável do que comprar todo seu guarda-roupa de novo, é dar vida longa ao que já foi produzido. Muitos brechós são horríveis, mal cuidados, mal iluminados, eu sei, mas hoje em dia é possível encontrar lugares em que as peças são muito bem mantidas e tem tanto apelo quanto produtos "novos" em uma vitrine. Minha sugestão em São Paulo é o Juisi by Licquor, com preços bons e acervo muito bem cuidado.
Reaproveitar: os criadores menores utilizam sobras de tecido para desenvolverem peças novas. Uma marca que encontrei é a Mutation, que tem um conceito muito simpático e peças idem, e vale à pena prestar atenção na proposta deles.
Recriar: as novas fibras de bambu, de PET ou mesmo o algodão orgânico são igualmente celebradas e questionadas como soluções para uma indústria têxtil menos poluidora. Essa discussão é positiva porque, com tanto material já disponível, os esforços em desenvolver novas fibras são sempre benvindos.
Eu sei que a essa altura muita gente já torceu o nariz para as roupas de estética eco, as de segunda mão e as reaproveitadas, não dá para negar a vaidade. Mas e aí, você tem uma sugestão?
Se quiser saber mais sobre o assunto, acesse www.ecotece.org.br.
* Na faculdade fez Têxtil e Moda, hoje em dia presta assessoria a empresas e não contente, estuda arte conceitual e figurino teatral. Para não se perder, tenta registrar tudo em seu blog.