Chegamos ao dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Como de praxe, autoridades cumprimentam as mulheres, políticos enviam mensagens, escolas e universidades realizam debates e palestras, enfim, parece que as coisas vão mudar.
Mas, infelizmente, o dia 8 de março passa, mesmo com os grandes esforços e da competência da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República. A vida volta com o peso da realidade, e o machismo ressurge como se nada tivesse acontecido para dominar o cenário social.
A violência física contra a mulher em nosso país, contra a qual a Lei Maria da Penha é um grande instrumento de combate, continua fazendo vítimas dia após dia, sem mais o alarme que ocorria logo após a sanção da lei.
As casas abrigos estão lotadas e existem mulheres ameaçadas na fila de espera. A violência psicológica, no entanto, é imensurável.
A realidade de uma mãe trabalhadora, que mesmo tendo direito, não encontra creche, educação infantil ou educação integral para seus filhos, tendo que sair de casa pela manhã e retornar à noite com a permanente angústia de não saber como eles estão e o que fizeram durante o dia.
A situação enfrentada pelo assédio moral e sexual, que se replica na imponência do poder herdado em uma cultura que ao próprio homem explora sem pruridos, e conjugada com o machismo, aprofunda sua fúria na opressão das mulheres, com reflexos evidentes nas estatísticas das condições de trabalho, emprego e salário.
A situação das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais, que sofrem o preconceito e discriminação, tendo que lutar duplamente, em razão de seu gênero e de sua orientação sexual ou infelizmente ter de ocultar sua orientação como uma das condições de sobrevivência.
A discriminação racial e étnica se fortalece no machismo alijando mulheres negras e indígenas de seus direitos, quase que definindo seu espaço de convivência às cozinhas, faxinas e sub-empregos.
São tantas as situações de opressão que vivem as mulheres que se torna impossível enumerá-las.Uma opressão que se reproduz em várias culturas e, enquanto em algumas são obrigadas a esconder o próprio rosto, se tornando seres sem identidade, em outras, são incentivadas a tirarem a roupa para saciarem os desejos libidinosos que lhes identificam como vegetais.
Em 2011, felizmente, haverá outro dia 8 de março e comemoraremos novamente o Dia Internacional da Mulher. Espero que possamos comemorar a inserção de mais mulheres nos espaços de participação formal, especialmente na política. Temos mais doze meses de oportunidade para, mantendo e reavivando o ativismo, avançarmos nas mudanças deste horrendo quadro de preconceito e discriminação em nossa sociedade.
A comemoração desta data deve reavivar a memória de que precisamos lutar, e vencermos é uma condição que se impõe para uma sociedade fraterna, justa e solidária, onde todos e todas tenhamos os mesmos direitos e as mesmas oportunidades.
*Fátima Cleide é senadora do PT pelo estado de Rondônia. Seu mandato é marcado pela defesa do PLC 122/06 – projeto de lei que criminaliza a homofobia.