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A Pedagogia do Espaço Privado

Entende-se por pedagogia como ferramenta para o ensino de uma teoria, conceito, métodos por fim, a prática de ensinar. Já o espaço privado é ou deveria ser o ambiente onde o Estado não se mete, onde as regras são determinadas pelos seus ocupantes. Mas, desde que Estado Moderno foi fundado e se estabeleceu o Espaço público, este regido por leis/ regras e o Espaço Privado, este regido pela individualidade dos sujeitos ocupantes, é fato que, se na ausência de um ator estatal para se intrometer no modo como devemos conduzir o nosso espaço privado, os meios de comunicação (televisivos e impressos) ocupar-se-ão de imprimir uma Pedagogia do Espaço Privado.

Primeiramente caminhemos por uma banca de jornal e notemos revistas como “Minha Cozinha”, “Minha Casa”, “Meu Jardim”, “O quarto das crianças”, “Como organizar um escritório”, “Como ser um homem de sucesso” etc. (os nomes não condizem com a realidade, são exemplos), você pode questionar e dizer que se trata de publicações editadas por especialistas que visam facilitar a vida em seu cotidiano. Agora, atente-se a pegar uns cinco exemplares de títulos diferentes e analisar o seu conteúdo – desde o seu título e atentará para o fato de que todas elas, se não irmãs, pelo menos são primas de primeira ordem. A diferença fica na roupa que vestem.

Com a recente estreia do programa “Encontro com Fátima Bernardes” milhares de internautas iniciaram campanha pedindo a volta dos desenhos que eram exibidos no horário ocupado pela ex- apresentadora do JN. E qual é a pauta principal do programa de Fátima? O sujeito na sua individualidade: que tipo de unha esta moda e qual modelo usar no cotidiano e em situações específicas; histórias de quem tentou a vida no exterior; reencontro de irmãos e por aí vai. É o espaço privado que importa e como este se organiza que importa. E os sujeitos que pedem pela volta do “Bob Sponja” ou desligam a TV ou se contentem em serem educados…

E o que antecede Fátima Bernardes? Ana Maria Braga com o seu “Mais Você” que apenas com o seu cenário já educa a cozinha e a sala de estar; posteriormente entra no ar “Bem Estar” que trata da saúde do indivíduo e não do coletivo, população. Mas, isso para dizer que além do canal rede Globo todas as outras emissoras, com a exceção do SBT ocupam as suas manhãs com a sala de estar e com a cozinha de casa. A partir de pautas “como fazer”, “como economizar”, “como se vestir”, “como não fazer feio”, “como receber amigos para isso e para aquilo” educa-se sistematicamente o último refúgio dos sujeitos.

Se hoje não é o Estado, são os meios de comunicação, que, também, carregados de códigos políticos e morais, condicionam e emplacam um sistema fictício de vida as gentes. Para se ter uma ideia do quão longe chega esta Pedagogia do Espaço Privado, a Fox mantém no ar e agora também no Brasil, o canal “Bem Simples”, todo dedicado a questões de dentro de casa. Já não importa mais somente regular e organizar os que se faz nos espaços públicos. Periodicamente e muito sutilmente a vida privada transformar-se-á num regime de controle, porém, não no sentido repressivo, muito pelo contrário, acredita-se num “convite” e numa suposta “variedade”, quando na verdade, se olharmos bem a fundo, tanto no Público quanto no Privado tendemos a cada vez mais nos tornar homogêneos e regidos por um poder um invisível, diluído e adquirido por bytes, impressos e plasma.

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