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A pluralidade do sexo como parte natural da vida

E durante o último domingo, num momento da mais pura falta do que fazer, sentei pra ver o Programa do Faustão por alguns minutos (péssima idéia, eu sei!). Estavam lá como convidados o Marcão e a Tathiana, recém-saídos da casa do Big Brother 8, respondendo perguntas diversas enviados pelo público. Uma delas era a seguinte: “Marcos, o que você sentiu ao saber que a Tathi já beijou mulheres?”. A resposta dele foi no sentido de dizer que o que ela tinha feito no passado não lhe incomodava.

Em outro desses momentos de nada pra fazer, assisti um pedaço de um reality show da MTV chamado “Engajed & Underage”, que mostra jovens casais às vésperas de seu casamento. No programa, a noiva se declarava bissexual. Ela dizia a uma amiga que ficava feliz do noivo não se importar com sua orientação. No entanto, num dado momento, aparece ele dizendo que, tecnicamente, após o casamento, ela não seria mais bissexual, porque estaria casada.

Essas duas declarações, totalmente descompromissadas, talvez sejam ótimos exemplos para mostrar, pelo menos em parte, de onde nasce o preconceito. A bissexualidade não é encarada como um fator da vida, e sim como um momento. Lógico que isso é esperado numa sociedade (pseudo) monogâmica, já que o “normal aceitável” é que nos relacionemos apenas com uma pessoa de cada vez. Sendo assim, toda a vivência de bissexuais acaba sendo dividida entre momentos heterossexuais e momentos homossexuais. Ou aceitamos isso para nos encaixarmos no padrão (ainda que de um modo bastante capenga, já que o padrão mesmo é heterossexual e ponto), ou então partimos para a administração de dois relacionamentos simultâneos. O que – acredite! – nem sempre é fácil.

Um outro lado da questão pode ser vista no “caso Ana Carolina”. Pra quem não se lembra, a cantora foi capa da Revista Veja numa matéria intitulada “Sou bi, e daí?”. Na época, a repercussão foi grande! Mas um dos comentários mais comumente ouvidos, principalmente entre as dykes, foi de repulsa. Acreditavam que ela estava se declarando bi com medo de assumir sua homossexualidade. Será? Será mesmo que alguém escolhe ser bissexual pra fugir de algum preconceito?

Longe de mim querer fazer comparações pra descobrir quem sofre mais. Mas eu realmente não acredito que carregar o rótulo de bissexual – leia-se promiscuidade, sexo casual, descomprometimento etc – seja mais tranqüilo do que assumir que é lésbica. Cada rótulo tem suas particularidades, é verdade, mas acreditar que um pode ser mais light do que o outro eu acho que é ingenuidade, ou desconhecimento de causa.

Questões como essas, na minha opinião, são insolúveis. É difícil encontrar respostas, principalmente porque estamos falando de sexualidade, ou seja, de intimidade, de desejos. É por isso que, sem medo de soar repetitiva, eu volto a bater na mesma tecla de sempre… Como se trata de questões completamente pessoais, o ideal seria que cada um descobrisse o seu melhor jeito pra lidar com cada situação, e melhor ainda se ninguém se preocupasse com isso. Como ainda não atingimos essa garantia de liberdade, precisamos continuar estimulando o diálogo, seja na mídia ou fora dela.

Falando na mídia, além dos exemplos citados, tem também o Bernardinho da Novela Global Duas Caras que, apesar de ter se declarado gay, vive um triângulo amoroso com Dália e Heraldo. No Superpop, dia desses, a Luciana Gimenez fez comentários sobre o Marcelo (também do BBB8), dizendo que “uma hora ele diz que é homossexual, depois fala que é bi pra conquistar a Gyselle. Esse mundo tá pirado!”.

Não podemos negar que a bissexualidade vem ganhando algum espaço na mídia. Resta saber se esse espaço é válido, se é essa a representação que queremos. Nesse ponto, não podemos negar que o movimento gay está anos-luz mais avançado. Não que esteja sendo feito um retrato fiel da comunidade gay na TV (longe disso!), mas ao menos existe organização para reivindicar aquilo que deve ser apresentado. O debate sobre a bissexualidade mal começou. E se nós mesmas não temos uma identidade firmada, e se mesmo dentro de pequenos guetos ainda lidamos com tanto tabu, como poderemos cobrar alguma coisa da imagem que mostram de nós?

Pra terminar, quero citar uma frase que li aqui mesmo no Dykerama. Ilene Chaiken, criadora da série “The L World”, deu show de coerência: “Quanto mais confortáveis nos sentimos falando e retratando o sexo, mais saudável é a sociedade. Somos provenientes de uma cultura muito puritana”, disse ela, afirmando que para que a TV mostre o sexo como parte natural da vida é só questão de tempo. Tomara!

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Ana Carolina