in

A Primeira Namorada…

Quando conheci a minha primeira namorada fiquei meio espantada por que não sabia muito bem como lidar com aquela nova realidade. Como assim, namorar uma mulher?

Ficou evidente para mim, depois de algumas tentativas frustradas de namorar, flertar, ficar, transar com uns sujeitos e notar que sentia atração, tesão, amor pelas sujeitas, que o próximo passo seria providenciar uma namorada.

Aí coloquei de lado todas as dúvidas existenciais, preconceitos, medos, lendas, tabus e pimba! Conheci uma mulher com quem iria ter um longo relacionamento. Meu caso não é isolado, muitas de nós demoram a concluir que sua orientação sexual é diferente da maioria, ou seja, o seu desejo amoroso e sexual é pelas garotas e não pelos garotos.

Mulheres da minha geração no geral têm grande dificuldade para assumir a sapatice. Os conflitos estão não só na esfera pública, como principalmente na esfera privada. A famigerada saída da armário para algumas não é nada simples assim. Penso que é essencial para aceitar a atração que você sente pelo mesmo sexo entender a si mesma. Precisamos acolher sem julgamentos o que sentimos e o que acontece dentro de nós. Essa honestidade com as nossas emoções aos poucos leva à aceitação de um amor diferente da norma, e facilita que a relação com nosso primeiro amor seja mais feliz e completa.

Aparentemente, com os jovens tudo isso é mais fácil e flui com naturalidade, inclusive perante a família e amigos. A moçada enfrenta os obstáculos e as convenções sociais com mais ousadia, e parecem acreditar que é perfeitamente possível o amor e o namoro entre iguais. É tão bonitinho ver as meninas andando na rua de mãos dadas, sentadas num banco de praça namorando abertamente. Outro dia mesmo, durante uma caminhada, dei de cara com uma cena dessas, olhei tentando disfarçar e fiquei numa felicidade única, aliviada ao presenciar algo assim acontecendo.

Dizem que as meninas de hoje não querem namorar, a moda é ficar, beijar, paquerar etc. Será? Com certeza não existe fórmula para começar um relacionamento sério, acontece naturalmente. Agora, vamos combinar, você sai um dia para dançar ou para conversar com as amigas num bar, conhece uma garota espetacular, atração imediata, vai ao cinema, ao teatro, leva a gata para assistir o timão no estádio, rola um beijo, dois, um amasso, você está que não se aguenta de tesão, vai para os finalmentes, passa um tempo e você tem aquela certeza enorme que encontrou a mulher da sua vida, não perca tempo!

Se atire e pergunte: quer namorar comigo? O Drummond escreveu uma crônica fantástica sobre o assunto, vou adaptar para namorada: “Se você não tem namorada é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlouqueça-se.” Aliás, a Brejeira Malagueta recentemente publicou o primeiro romance teen a abordar o amor entre garotas, da autora pernambucana Rafaella Vieira, que narra justamente o primeiro envolvimento entre duas adolescentes que estudam na mesma classe de um colégio em Recife: Depois daquele beijo. Imperdível!

* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.

“As Brejeiras”: Laura e Hanna homenageiam a escritora lésbica Radclyffe Hall

Globo começa a exibir “Glee” a partir do próximo sábado