Famoso celeiro cômico do país, o nordeste se transformou nos últimos anos em epicentro da cena musical brasileira de bandas alternativas. Curiosamente, é de lá também que as bandas consideradas mais transgressoras e ligadas às questões da homossexualidade têm surgido. Exemplos não faltam, a começar pela absurdinha Textículos de Mary passando pelo duo electro Montage para finalmente cair em Solange, tô Aberta!, a mais nova revelação nesse sentido.
O “Solange” começou em junho de 2006, mas foi apenas em outubro daquele ano que o grupo realizou seu primeiro show em Salvador, no conhecido “Beco dos Artistas”. Foi assim, que a dupla formada por Paulo Fraga e Pedro Costa, despontou. Sobre o nome, eles explicam: “É uma forma de usar um nome feminino para homenagear as travestis, pessoas que admiramos e respeitamos muito”. E porque elas estão abertas? “Aaahhhh… Porque ‘estar aberta’ é muito mais gostoso! Se estivéssemos fechadas não estaríamos conversando agora, por exemplo”, ferve a dupla, que ironiza com a identidade da personagem.
Apesar de ser comum subirem ao palco montadas, eles (as) afirmam não serem drags ou travestis: “Nós somos gays que gostam de usar maquiagem e vestidinhos da mamãe. Não somos drag queens, nem travestis. Também não usamos personagens e isso nos dá a liberdade de fazer show sem maquiagem, com barba, e com as roupas do papai também. Brincar através das identidades sexuais pode ser como vestir uma roupa. E gostamos muito de experimentar isso”.
A brincadeira em cima das identidades de gênero está presente não só no palco, mas também nas músicas. Abordando, de maneira explícita e debochada, a vivência homossexual, Solange é daquelas que instiga, provoca e choca. Elas militam sem querer militar.
Suas letras não são apenas bem humoradas, elas fazem pensar. Ironia também faz parte das letras da Solange. “Teste do Sofá” é uma paródia de “Te levar” do Charlie Brown Jr e, claramente, um xoxo a novela Malhação. O refrão? “Elenco de apoio/ Faz boquete/ Pra ser vilão/ Tem que dá o bundão/ Pra ser mocinho/ Come, dá e chupa!!/ E é assim que vai nascer/ O novo astro da TV/ O novo objeto de desejo / O novo símbolo sexual.”
Outro personagem importante do mundo de Solange, tô aberta! é o ânus. Sim, o bom e velho cu, vira e mexe é protagonista de suas músicas. Impossível falar da banda e não falar de cu. Um exemplo é a música “Cuceta” que diz “O cu é um buraco/ Que todo mundo tem/ Eu tenho uma cuceta/ E você uma buceta”.
A banda também tem um lado sério que é, justamente, suas músicas irreverentes. Em “Respeito às travestis” a dupla avisa: “Travesti é uma boneca luxuosa/ É uma mona poderosa/ Uma guerreira corajosa/ Não se curva a essa sociedade burra/ Que só sabe dizer não/ Ao que tá fora do padrão/ Travesti toca fogo no armário/ E não é como as maricona/ Que é um bando de otário”.
Uma das melhores canções da dupla é uma homenagem a mais famosa drag de São Paulo: “Silvetty Montilla para presidente!”. Questionadas se elas votariam na diva, a resposta foi afirmativa. “Sem a menor dúvida! Já estamos cansados de ver um bando de imbecis no poder fazendo palhaçadas que não tem a menor graça. A Silvetty além de fofa é engraçadíssima. Ela ainda vai dominar o mundo”.
E as Solanges também!