Terminei de ler o livro que inspirou o roteiro do filme "Quem quer ser um milionário?". A obra é do escritor indiano Vikas Swarup. Aqui no Brasil o romance nem existia, porém na terra dos hindus foi grande sucesso e graças a boa campanha do longa – vencedor de 8 oscars – é que foi traduzido aqui pela Companhia das Letras. Bom, a tradução não é das melhores, tem alguns errinhos tipo "para mim fazer". Mas, dá para se divertir.
O esqueleto central da história foi mantido pelo roteirista do filme, Simon Beaufoy, mas o resto foi todo alterado sem perder a originalidade da obra. No filme começamos com o personagem principal sendo torturado, no livro também, na película vemos Jamal, o protagonista que, no romance se chama Ram Mohammad Thomas, relatar a sua história ao delegado. Já no impresso uma advogada chamada Smita invade a sala de tortura e determina que parem de maltratar o garoto.
É a ela que nosso herói irá contar a sua história de como um garçom sem completar os estudos sabia tantas respostas difíceis e chegou ao prêmio máximo de 1 bilhão. Ram/Jamal é órfão tanto no livro quanto no filme, mas não tem irmão e sim o melhor amigo que se chama Salim e este sonha em ser astro de cinema. Outra diferença gritante entre o filme e o livro é que a história do grande amor do protagonista, que o fez com que procurasse participar do programa, só da às caras no final da história. E aqui ela se chama Nita e Ram/Jamal irá conhecê-la quando pela primeira vez visita o Bairro do Meretrício.
Nesse ponto o original é bem melhor. Pois, o roteirista do filme se foca no amor, há uma critica social, mas bem mais amena que no livro. O escritor, que é diplomata, vai fundo nas questões do capitalismo emergente da Índia e como este influencia e cria sonhos na cabeça de milhares de crianças miseráveis do país. Aí está um tipo de realidade que também permeia o nosso Brasil, pois tanto este quanto a Índia, são países pobres que se acham ricos.
Ao acompanharmos as desventuras de Ram/Jamal temos a noção de que todos que no capitalismo estão sonham com coisas básicas: comer uma vez por semana no McDonalds, ter o playstation 2, uma calça da Levi’s, um tênis Adidas, um carro de luxo, uma casa e ter uma esposa/o onde possa lhe ofertar os mais variados presentes sem se importar com a fatura do cartão do crédito. São estes tipos de desejos que rondam a vida do personagem principal em toda a sua odisseia e de como essas coisas e o tal do sonho são meros fetiches criados pela indústria cultural, ao qual quase todos (se não todos) vivem sob a sua fetichização comportamental, como enxergaria há mais de quarenta anos o semioticista italiano Umberto Eco.
Qual eu prefiro? Realmente eu não sei responder. O filme e o livro são ótimos, ambos possuem uma velocidade muito boa, você não se cansa de ler ou assistir. A forma como o escritor Vikas Swarup resolveu contar essa história foi uma sacada excelente. Agora, sobre o desfecho, confesso que o livro foi mais instigante e original e com inúmeras surpresas. Entre elas a do apresentador do programa e da advogada que resolve ajudar Ram/Jamal a provar que não fraudou as respostas. Mas, se você quiser descobrir encare o livro que é bem fácil de ler e tem pouco mais de 300 páginas.