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A TV formata opiniões e estilos de vida?

A pergunta acima parece obvia e ultrapassada, mas não é e ainda suscita inúmeros debates. Pois, se a internet permite um certo anonimato e varias maneiras de relações e vivencias que no mundo de carne, osso e concreto não é possível, a TV ainda continua a ser o espaço da representação, ou quase, de uma sociedade. Claro, sempre enquadrada em estereótipos.

A  questão veio a tona quando recentemente escrevi um artigo a respeito da abordagem da questão homossexual na novela das 19h do canal Globo, “Ti ti ti”, que tem promovido um interessante debate a respeito da homossexualidade em torno dos personagens Thales e Julinho. Concordo que a abordagem acontece dentro de um ambiente heteronormativo, porém, não podemos negar o horário em que ela é exibida:  no café da tarde, quando a mãe e seu filho/a que pode ser gay está ao seu lado.

Portanto, a partir dessa perspectiva, podemos imaginar um dado cenário: mãe e filho. Vamos supor que estes dois estejam vivendo um conflito parecido com o da novela: primeiramente com Bruna e Julio, ela católica praticante que levou meses para aceitar o seu filho adotivo enquanto homossexual e também teve de  lidar com a questão de que o seu filho biológico era companheiro do seu filho adotivo. Ela re-siginificou a sua fé para aceitar o filho adotivo.

Aquela mãe no conforto do seu lar, que nunca teve contato com teorias e coisas do tipo, apenas com a sua fé, pode, a partir do discurso exposto no produto que ela julga ser o mais confiável da televisão, rever a sua posição com o filho. Então, sim, a TV ainda possui um papel importante, para o bem e para o mal, no cotidiano da sociedade brasileira. Não à toa os políticos ganham as eleições a partir da televisão.

Mesmo quando dizemos que a história de Thales e Julinho se passa dentro do ambiente heteronormativo, não podemos deixar de reparar que este ambiente heteronormativo está sendo re-significado para dar espaço a estes sujeitos não reprodutivos e marginais. Até por que, a sociedade inteira vive neste ambiente, então, antes de destruirmos o que aí está, é preciso encontrar brechas para aplacar certos sofrimentos, até fazer sangrar.

As novelas “Insensato Coração” e “Ti ti ti” estão prestando um ótimo papel. Não podemos esquecer que simultaneamente a São Paulo e Rio Janeiro, Rio Branco e Rondônia assistem ao mesmo produto. Em certos lugares estes produtos causam sim influência e fazem com que certos preconceitos arcaicos se modifiquem para melhor. Por hora, é melhor ocupar um certo espaço nos produtos heteronormativos, do que viver na invisibilidade.

Mas, no final da contas, tanto a homossexualidade quanto a heteronormatividade são performances culturais, mas aí, só um outro post.

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