in

A vantagem de ser lésbica

Tudo começou quando numa dessas noites mal dormidas, fato que tem sido uma constante na minha existência de mulher madura, pois não durmo mais do que cinco horas e costumo me recolher (essa palavra é tão formal que não combina comigo, só com a minha idade) cedo. Daí que resolvi ler alguns textos pendentes que serão publicados pela Brejeira Malagueta.

A insônia é um dos sintomas das mulheres que passaram dos 45 anos e já entraram no climatério. Você sabia que lésbicas também têm menopausa? Agora, olha só (como dizem as cariocas), que sorte grande nós tiramos: somos infinitamente mais compreendidas, cuidadas, acocadas, do que as mulheres hetero na menopausa, porque temos uma mulher do nosso lado.

Já pensou sobre o assunto? Veja só a vantagem de ser lésbica! Indico alguns sintomas que esclarecem um pouco sobre a pré-menopausa, também chamada de climatério (o meu médico sempre me alerta sobre a confusão, porque a medicina considera menopausa só quando a mulher deixa de menstruar definitivamente): insônia, calores, irritação, suores noturnos, chororô sem qualquer motivo, fúria assassina com ou sem motivo, mau humor, diminuição do desejo sexual, ressecamento da pele, aumento de peso, perda de energia, aumento nas taxas de colesterol, aumento da pressão arterial, desânimo e a famosa síndrome “condor”. Não me refiro à ave, mas sim a acordar todo dia com uma dor diferente. E, se não sentir nada, a certeza de que está morta…

Alternativas para diminuir o quadro tragicômico acima, seguindo a minha experiência no tema, são: homeopatia, muita soja no cardápio (no meu caso o efeito foi de água de bacalhau, ou seja, não serviu pra nada), para quem não curte vai alopatia mesmo, reposição hormonal, yoga (para mim foi a verdadeira salvação da lavoura), massagens, reflexologia, acumpuntura, meditação, pedras quentes, mornas e frias e terapia, muitas sessões extras, sugiro solicitar um financiamento bancário para tanto. Agora, se nada adiantar, nem terreiro, rituais indígenas, xamanismo, chás alucinógenos ou de ervas inofensivas, faça uma promessa para seu santo, anjo, Deus, forças superiores para que na próxima encarnação você nasça menino! É a melhor solução…

Mas, falando sério, para quem não sabe, na adolescência a mulher tem a primeira grande mudança hormonal. Na gravidez a segunda e na menopausa a terceira. Daí se explica esse quadro desvairado de sintomas, é uma verdadeira dança de hormônios que deixam a mulher alopradinha, e põe aloprada nisso! Essa história é tão séria que outro dia descobri, através de uma reportagem, a existência da Sociedade Brasileira do Climatério, será que me aceitam de sócia?

A medicina diz mais ou menos o seguinte sobre o assunto: a mulher enfrenta o estranhamento de um corpo que não reage como antes, a falta de desejo sexual pode ter relação ou não com as alterações orgânicas que o climatério causa, e finalmente o equilíbrio psíquico tem grandes possibilidades de entrar em órbita. Esse quadro todo em algumas culturas indígenas é totalmente desprezado, pois os habitantes nativos das Américas defendem a tese que nesta fase a mulher atinge a sabedoria e o poder de agir com independência.

Da mesma forma, em países como o Japão e a Índia, onde a velhice é respeitada por sabedoria, as mulheres aceitam bem a menopausa e pouco se queixam dos sintomas do climatério, esperando-a alegremente e com liberdade. Bella roba!

Tem gente que afirma que nesta etapa da vida as mulheres, lésbicas ou não, são ainda mais discriminadas, porque no Ocidente a menopausa é vista como o começo da velhice e o definhamento. Somado a isso, nós lésbicas sofremos preconceito devido à nossa orientação sexual.

Com certeza vaidade e autoestima podem existir na maturidade e nós, mulheres, independentemente da nossa orientação sexual, podemos ultrapassar essa fase de forma tranquila. Para que isso aconteça, você pode dentre outras coisas evitar açúcar, sal em excesso, gordura saturada, excesso de proteína, estresse, guardar sentimentos negativos e procurar fazer refeições leves, tomar sol, se exercitar. Agora, o mais importante é ter um ideal e um amor, sem os quais a vida não vale a pena!

* Hanna Korich é uma das sócias fundadoras da Editora Malagueta, agora Brejeira Malagueta – a primeira e única editora dedicada à literatura lésbica da América Latina, desde 2008.

Sexo e literatura

Galeria: A exuberância negra e imponente de Courtney Grant