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A Virada das Sapas

O Projeto Sapataria foi convidado a escrever um blog aqui no Dykerama! Ebaaaaa! Ficamos muito felizes com a oportunidade de expor as nossas idéias e dialogar com as outras vozes que contribuem para esse espaço.

Então vai ser assim, Sapatão: pretendemos reunir os mais variados textos que falam do dia-a-dia de todas as dykes que participam do Projeto. Com o tempo, teremos um bocadinho de textos que contribuirão com o fortalecimento da cultura sapatônica.

Para começar, a Luísa escreveu sobre como foi a Virada Cultural.

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Eu, mais paulistana que “dois pastel e um chopps”, fiquei muito feliz quando aconteceu a primeira edição da Virada Cultural. Freqüentei todas elas e acho incrível como a cidade vira uma grande festa. É a maior rave do mundo no centro da cidade! Todos os tipos de pessoas participam dos mais diversos tipos de manifestação cultural.

Você está assistindo a um show e ao seu lado é possível encontrar metaleiros, hippies, gays, manos, famílias de classe média e por aí a fora. Todo mundo vai para a virada. É possível encontrar diversão para praticamente todos os gostos. Minhas amigas e eu nos divertimos bastante, mas passamos por maus bocados que não são muito diferentes do que qualquer mulher vive por aí.

Éramos 14 dykes prontas para nos divertir na Virada inteira. Nos encontramos na casa de duas delas e fomos a pé para o palco da avenida São João. O plano era assistir ao show dos Mutantes, chegamos na hora que o Zé Ramalho começava a tocar e logo de cara nos surpreendemos com a multidão. Ora, no meio da multidão devemos nos comportar como multidão, então toda a vez que sentíamos que alguém estava invadindo demais o nosso espaço, juntávamos em “bolinho” que era basicamente as 14 mulheres apertadinhas, todas juntas… para não sermos encoxadas por ninguém, nos encoxávamos nós mesmas.

O show dos Mutantes seguiu sem muitos grilos, apenas a quantidade enorme de gente e uma amiga que desmaiou, mas logo foi devolvida pelos bombeiros e pôde acompanhar o resto do show. Acasos que a multidão produz. Os problemas realmente começaram quando o novo dia já apontava no horizonte, foi quando a nossa presença no centro da cidade começou a ficar tensa.

Certo momento, caminhávamos em direção do Vale do Anhangabaú procurando qualquer coisa que pudesse nos entreter. Sentados ao pé de um prédio estavam uns 7 rapazes. Ao ver passar 9 de nós, 3 deles colocaram seus corpos em frente das últimas, impedindo que passassem livremente. Como se fossem obrigadas a parar e atendê-los seja pra o que fosse. Já no Vale do Anhangabaú, algumas das meninas entram como foguete em um boteco para usar o banheiro. Enquanto a maioria de nós esperava na porta, ao lado de um grupo de carecas. A falta de cuidado não resultou em nada, mas isso não significa que foi tranqüilo. Ninguém pode se sentir bem ao receber os olhares raivosos que aqueles homens miravam em nós. Saímos num pulo.

Mais adiante, duas meninas se aproximaram e pediram para ficar perto da gente um pouco. Contaram que um grupo de garotos havia ameaçado bater nelas caso elas não se beijassem. Elas correram. Uma garota de 1,45m foi agarrada por um rapaz que, ao ouvir que ela gostava de mulher, respondeu agarrando-a com mais força e dizendo que ela iria começar a gostar de homem naquele momento. Ele levou um tapa na cara!

O caso é que, do jeito que os homens nos tratam, não é realmente seguro para uma mulher sair pela rua. Estamos sujeitas a todos os tipos de assédio e em situações com um número extraordinário de gente na rua é pior ainda. E nós, o que fazemos? Não saímos mais de casa? Conversando com um grupo de amigos sobre a Virada e seus transtornos, ouvi de uma menina que nós devíamos andar com homem porque, assim, não seríamos importunadas por outros homens. Embora em vão, tentei explicar o quanto era absurdo a afirmação dela.

Por que diabos eu tenho que depender de um homem para estar segura? É justamente por causa dessa necessidade imposta a mulher de que ela precisa de um homem para protegê-la que sofremos com situações como essas da virada. Por não termos nenhum outro homem nos protegendo, eles podem deitar e rolar. Me poupe! Já é tempo da mulherada parar de achar que está tudo bem. Por que não está, nem nunca esteve.

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Fuzarca Feminista