Sempre achei uma grande burrice pessoas se acharem melhor do que as outras. Em alguns momentos, até pensei que isso era lenda. Mas lendo o livro do Grind (matinê que festeja a diminuição do preconceito do rock no meio gay) fiquei espantado com os termos que são dados, por personalidades da cena, aos que freqüentam o meio gay: "Barbie do rego pra fora, que se faz de hétero", "patifaria", "Barbie-quáquá", "bichinha" entre outros piores.
Os entrevistados do livro generalizam com esses termos. Dizem que somos padronizados e que nossas músicas são somente gritaria. E várias outras ofensas. Além de que são mais cultas que as "quáquás". É aquela coisa né, quem é inteligente não precisa ficar se auto-afirmando.
Então, pergunto: Se quiséssemos (não acho que somos) por que não poderíamos ser padronizados, qual é o problema, que mal fazemos em nos padronizar? Quem quiser ser diferente, que seja.
Comentei com o Pomba, idealizador do Grind, que é uma pena um projeto que venceu tantos preconceitos, gerar tantos outros. O Pomba, a todo o momento se ofende quando generalizo e uso "vocês" para identificá-lo como um dos undergrounders, mas sei que ele não compartilha deste pensamento pequeno, afinal quando o conheci, há mais de 10 anos, ele freqüentava a boate Rave como eu, que era palco de shows de drag e de todas características atacadas pelos freqüentadores do Grind, Vegas, Gloria e D-edge.
Vale lembrar que algumas das entrevistas do livro foram colhidas há 5 anos, então muitos que usaram estes termos amadureceram, e hoje podem ser visto na Bubu ou na The Week. É aquele velho erro de cuspir pra cima, cai na cara.
Outra deficiência, é que até agora não consegui encontrar um jornalista que goste desse lado criticado da noite. Os quatro aqui da redação, só gostam mesmo do lado underground. Acho isto ruim, pois fica faltando pluralidade e também sensibilidade. É ruim ter que explicar quem é Peter Raulhofer pro jornalista, eles acham que é apenas um dj. Não sabem que ele inventou um estilo de musica que é o mais tocado no meio gay do Brasil e provavelmente do mundo. Se você tiver indicação de jornalistas que curtam esse meio, me mande o currículo (sergio@ibe.com.br).
Estive pensando também em que termo utilizar para essa fobia, pensei em vários, mas muito pejorativos: quaquáfobia, pocfobia, meiogayfobia, mainstreamfobia…. não cheguei a nenhum que realmente represente esse sentimento burro. Se você tiver dicas, me mande também por favor.
O primeiro clube gay que fui há mais de dez anos foi a Tunnel. É este provavelmente o lugar mais hostilizado pela maioria dos praticantes da X-fobia. O segundo foi o verdadeiro berço da noite underground gay no Brasil, o Sra Krawitz, e por sorte sempre consegui transitar nestes dois meios me divertindo muito. Dizem que os bissexuais são mais felizes, então posso dizer que os que estão abertos a diferentes nichos também.
Pergunto, por que não se divertir em uma noite na The Week, com um lugar incrível, atrações incríveis, homens lindos? Por que não se divertir numa quinta feira da Lôca (meu dia preferido lá), beber no bar da Rita, ouvir os Pomba-hits e conversar em baixo do pé? E uma noite da Bubu na sexta, mais ferveção impossível, misturada de meninos lindíssimos, heteros só até as 3h, laser na pista, babado e confusão! E Cio da Glaucia no D-edge? E o shows engraçadíssimos na domingueira da Blue Space? E uma tarde de pool party num sitio a beira da piscina tomando sol e dançando? Desculpem-me os limitados, mas eu gosto de tudo mesmo.
É triste ver que a humanidade é tão burra e bairrista. Brigam e se ofendem por religião, orientação sexual e até estilo musical.
Brinquei com o Pomba que faríamos um protesto na domingueira da Lôca, falei que iríamos com drags dubladoras, barbies descamisadas, go go boys e etc. Mas a Lôca é um lugar que sempre acolheu todos muito bem. Prova disto, é que lá hoje tem shows de drag, inclusive da Silvetty. Então, acredito que houve um amadurecimento e este tipo de pensamento só ficou com os mais limitados e radicais mesmo.