A mais recente adaptação cinematográfica de Luca Guadagnino, baseada na obra póstuma de William S. Burroughs, tem sido amplamente criticada por sua superficialidade e falta de conexão com a essência do autor. Intitulada ‘Queer’, a produção se inicia com uma versão da canção ‘All Apologies’, de Nirvana, enquanto apresenta objetos aleatórios do apartamento de Burroughs na Cidade do México, insinuando que ‘todos são gays’. No entanto, essa abordagem se revela vazia e desconectada, como se o filme fosse uma sessão de fotos estilizadas sem conteúdo substancial.
A trama gira em torno de William Lee, interpretado por Daniel Craig, que tenta incorporar o espírito de Burroughs. O personagem, um escritor rico e alcoólatra, se envolve em uma vida boêmia repleta de excessos, cercado por expatriados americanos nos anos 50. Sua rotina é interrompida pela chegada de Gene, um jovem fotógrafo interpretado por Drew Starkey, que se torna seu objeto de desejo. Essa dinâmica, no entanto, é tratada de forma insatisfatória, culminando em um relacionamento que carece de química e profundidade.
O filme se desvia significativamente do texto original ao levar os protagonistas a uma jornada em busca de ayahuasca, onde encontram uma botânica maluca, interpretada por Lesley Manville, em uma sequência de sonho psicodélico que parece mais uma tentativa mal sucedida de surrealismo. Ao longo do filme, a falta de uma narrativa coesa e a reinterpretação rasa do personagem de Burroughs transformam William Lee em um mero ‘chato de bar’, desprovido da complexidade e do charme que caracterizavam o autor.
Quando os créditos finais aparecem, muitos espectadores provavelmente respiram aliviados, pois a experiência cinematográfica se torna um convite à fuga, em vez de uma imersão no universo intrigante de Burroughs. A adaptação de Guadagnino, em cartaz a partir de 13 de dezembro e disponível para streaming na Mubi em janeiro, decepciona ao não capturar a essência da obra que pretende homenagear.