Com o aumento do número de mulheres infectadas pelo vírus HIV no Brasil e no mundo, uma nova discussão tomou corpo: lésbicas são ou não são vulneráveis ao vírus da Aids?
Este é o assunto que vou abordar na minha coluna deste mês, que vou escrever em duas partes: antes da Conferência Internacional sobre Aids, que acontece no México, e após o evento, quando voltarei com mais informações sobre o assunto.
Sabemos que no início da Aids, antes conhecida como “epidemia gay”, muitos dos esforços foram voltados aos gays, às travestis, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo, pois se entendia que na época esses eram os chamados “grupos de risco”. Contudo, após 28 anos, observamos que a epidemia não poupa ninguém que se descuide e faça sexo desprotegido. Nos últimos anos, observamos que a relação entre homens e mulheres infectadas no Brasil é de 1,5 homem para 1 mulher, o que torna a vulnerabilidade entre homens e mulheres proporcional.
É importante ressaltar que a epidemia é notificada e, com isso, contabilizada por meio de um formulário feito após o diagnóstico nos serviços de saúde. Este formulário, porém, não tem entre as suas opções relações entre duas mulheres como possibilidade de infecção pelo vírus HIV, o que torna ainda mais difícil investigar seriamente se relações sexuais entre duas mulheres são possíveis de infecção.
A relação entre lésbicas e as DSTs está intrinsecamente ligada a fatores, tais como: a invisibilidade da vivência lésbica, a invisibilidade do corpo feminino e a homofobia, preconceito e discriminação existente na sociedade. E isso se reflete diretamente nos serviços de saúde, que colocam as lésbicas invisíveis ao sistema, potencializando sua vulnerabilidade em relação às DSTs e ao HIV.
Sendo assim, muitas lésbicas acreditam no mito de que relações sexuais entre mulheres é fator de proteção às DSTs e ao HIV, o que além de ser mito e um pensamento equivocado, nos faz ficar desprotegidas às doenças sexualmente transmissíveis.
Estudos norte-americanos apontam que a exposição ao vírus HIV aumenta em relações com menstruação, relações estas que potencializam o risco a várias DSTs, principalmente às hepatites, cujas taxas de infecção crescem no país.
No Brasil, há um número muito restrito de estudos sobre o assunto, mas recentemente a Rede Feminista de Saúde publicou um dossiê sobre a saúde integral das mulheres lésbicas, bissexuais e outras mulheres que fazem sexo com mulheres, o que trouxe importantes informações e estudos sobre a nossa saúde.
Desde o ano passado, o Ministério da Saúde tem capacitado profissionais para a qualificação do atendimento às lésbicas, bissexuais e outras mulheres que fazem sexo com mulheres no Estado de São Paulo e deverá levar o projeto para os demais estados da União.
É importante lembrar também que muitas de nós estamos expostas ao HIV e às DSTs e precisamos entender a importância de freqüentar o ginecologista para avaliar nossa saúde integral e os serviços de Testagem e Aconselhamento para buscar informações sobre como prevenir as DSTs e a Aids e, principalmente, como fazer sexo mais seguro.
A partir dessas observações, retorno à minha pergunta inicial: lésbicas são ou não são vulneráveis ao HIV? Esta resposta, eu honestamente ainda não tenho. E você Conhece alguma amiga que se infectou com o HIV ou outra DST?
Se sim, me escreva: irinabacci@gmail.com. Até a próxima!
* Irina Bacci é lésbica e consultora do Programa Nacional de DST/Aids para o Projeto Chegou a Hora de Cuidar da Saúde para mulheres Lésbicas, Bissexuais e outras mulheres que fazem sexo com mulheres.