… mas tá quase lá!
Semana passada foi ao ar o primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira. Ou, melhor dizendo, o primeiro beijo lésbico. E claro, não foi na Globo, foi no SBT… O que eu achei ótimo. Adoro ver a toda poderosa ficando pra trás. Dizem que o beijo gay e o beijo lésbico são a mesma coisa. Eu até concordo, mona, mas em partes…
A questão é que nossa tão querida cultura brasileira é totalmente pautada no machismo. Aliás, o machismo é um dos fenômenos mais antigos nas culturas, tanto ocidental como oriental. Mas vamos nos ater à cultura ocidental, mas especificamente ao "tico-tico no fubá" que é a cultura brasileira.
Por mais que tenha sido um beijo gostoso, demorado e bem feito, a impressão que eu tenho é que um beijo entre duas mulheres choca bem menos do que o de dois homens. E por que digo isso? Mona… Basta você ir a qualquer locadora de filmes deste país, ir até a seção de filmes eróticos e ver as capas e contracapas. Vários destes filmes têm cenas com duas ou mais mulheres transando… Faz parte do fetiche masculino e os homens adoram ver casais de lésbicas se beijando, namorando e ficam logo fantasiando estar entre elas (como se as meninas fossem querer a neca do ocó, né?). Porém, nem homens e nem mulheres heterossexuais têm a menor fantasia em relação ao sexo entre dois homens. Pra não dizer nenhum, até hoje, só uma mulher me disse que se excita vendo dois homens juntos… Nem minhas amigas mais liberais veem graça nisso. Desta forma, o beijo lésbico, para mim, pode ser mais facilmente aceito por uma sociedade sustentada no machismo.
Mas o que significa este beijo gay na televisão brasileira? Mudaria alguma coisa?
Muita gente diz que este beijo é ofensivo e não é o que a família brasileira deseja ver na televisão. Mas aí eu me pergunto: ver a desgraça alheia é algo que o povo realmente quer? O que dizer destes jornalísticos sensacionalistas que exploram a pobreza, a desgraça e a violência doméstica? Duvido muito que isso seja menos ofensivo que um beijo. Outros dizem, ainda, que o tal beijo é uma bobagem e totalmente desnecessário, como disse recentemente o autor de novelas Manoel Carlos, em entrevista ele afirmou: "Acho o assunto uma bobagem e não faz falta alguma. Criaram uma onda em cima disso tão inútil e boba. O que acho mesmo é que todo mundo deve se beijar". Sinceramente, o que eu acho uma bobagem e totalmente desnecessário é o povo brasileiro ficar vendo cenas da elite carioca, vivendo num Rio de Janeiro que não passa nem perto do real e ainda, de quebra, ter que aturar as idiotices das Helenas (sempre tão originais, nas criações do autor).
Na minha coloridíssima opinião, o beijo gay, em uma novela no horário nobre, abre espaço para visibilidade e debate de um tema que necessita de muita discussão ainda. Não podemos perder de vista que, no caso do Brasil, e em diversos países da América Latina, as novelas têm papel fundamental no comportamento das pessoas. Afinal, novelas lançam moda, criam jargões que facilmente caem na boca do povo e discutem temas que, em seguida, estarão sendo discutidos pela sociedade. Além do que uma novela deve ser fiel aos sentimentos dos personagens e, no mundo real, não existe gay que não se beije…
Mas eu ainda fico com os dois pés atrás, afinal, as emissoras falam de cidadania e coisas do tipo. Falam de preconceitos e a extinção deles. No entanto, o mesmo canal que fala que a homofobia é um preconceito é o mesmo canal que tem programas humorísticos que denigrem a imagem de gays e, em alguns casos, até incentivam a violência contra homossexuais.
Ao SBT, meus parabéns… Começaram bem com este beijo lésbico. Agora quero ver o beijo gay também… À Globo, ao Manoel Carlos e companhia, meu edi… Até porque o beijo de Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre) em "Amor e Revolução" foi muito melhor e real, se comparados com o beijo ridículo que fazia parte de uma encenação sem noção, dentro de uma formatura, como foi o beijo entre Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli), em "Mulheres Apaixonadas" do tal Maneco…
Tá dado o recado…
Beijo, beijo, beijo… Fui…