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Alma feminina

É bem verdade que todo gay adora a figura feminina em geral. Eu, por exemplo, sempre adorei ver minha mãe se maquiar e adorava ajudá-la a escolher o modelito que ela iria usar nos chás da tarde, jantares e eventos em que comparecia. É claro que isso faz parte da minha personalidade de hoje, afinal, conhecer o vestuário feminino e saber o que combina com o que não é tarefa das mais fáceis. Ser mulher é uma arte muitas vezes incompreendida por mentes primitivas e medíocres, que na maioria das vezes não conseguem chegar ao mesmo grau de compreensão.

Já houve quem dissesse que a mulher era o sexo frágil, ledo engano, pois não é isso que vejo desde que nasci. Sempre tive por perto exemplos de mulheres que exerciam sua feminilidade sem muitas restrições. Minha mãe palpitava até como meu pai tinha que cortar o cabelo, sempre era ela a quem eu tinha que me reportar e era a última estância se eu tivesse que recorrer algum castigo. Minhas tias não eram diferentes e minha irmã idem, Nunca percebi a mulher de maneira submissa, apesar de saber que a opressão existe e que a sociedade ainda tem um pensamento machista e castrador, que na maioria das vezes resulta numa mulher objeto, que gosta de ser adorada, que não se importa em ter o valores massacrados, desde que a imagem de sucesso lhe seja pertinente.

Depois de algum tempo convivendo com mulheres, cheguei no tipo de mulher que mais me intrigou: as mulheres que são mulheres e gostam de mulheres. No começo dei uma pirada, afinal, como pode haver sexo sem um pau? Na realidade as lésbicas precisam de um pau, mesmo que de borracha? Ou um dedo indicador? A figura do homem entre as mulheres apesar de não ser tão evidente para mim tinha que sempre estar à espreita de alguma forma? As respostas vieram e pude perceber mais uma vez que tudo na vida tem uma pluralidade infinita e que se apegar a estereótipos é terrível para quem quer manter uma mente sadia e livre.

Sei que algumas mulheres demoram anos para descobrir o gozo e que algumas delas vão morrer sem saber o que é isso, mas muitos homens também vão morrer sem saber o que é uma “preliminar”, o que é aproveitar o corpo do outro, o que é sentir o gosto e ficar inebriado com o cheiro de quem você está na cama, a sensação de olho no olho quando se está dando prazer ao outro, beijos longos, amassos, desejos à flor da pele, tudo isso para mim é tão importante quanto o gozo.

Descobrir coisas sobre o universo feminino é algo muito complexo, pois a variedade desse universo é infinita e não há escala comparativa. Seria ingenuidade achar que se sabe tudo sobre as mulheres, pois nem elas sabem tanto sobre elas, tudo é uma questão de descoberta. O fato é que a feminilidade não está ligada a padrões, estereótipos como das revistas de moda, é muito mais que isso. Ser mulher não é apenas ter uma vagina. No caso de algumas mulheres o corpo é a forma que elas encontraram de terem as atenções voltadas para si, mas é bem comum que essas mesmas mulheres tenham uma insatisfação constante por serem julgadas apenas pela aparência. Esse é o principal efeito colateral da superexposição do corpo feminino: subestimar a inteligência e a capacidade de atuação da mulher.

Seja como for, falar sobre mulher é difícil, ainda mais quando não se é uma. Perceber a forma feminina não exige se tornar uma mulher, e foi por isso que eu imaginei que meu texto de estréia deveria ser sobre elas: mães, irmãs, primas, amigas, admiráveis, cretinas, melindrosas, perigosas, ardilosas, frágeis, impiedosas, exuberantes, amantes, apaixonantes, santas, putas, sapatas, mas ainda sim mulheres…

Penélope Cruz em cenas “les” + feliz 2008!

Balança, balança minha…