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Almodóvar questiona as identidades de gênero em “A Pele que habito”

Pode-se dizer que o novo filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar, "A pele que habito", é a sua nova obra prima, ao lado de "Tudo de sobre a minha mãe", que lhe rendeu o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1999. Em "A pele…" o diretor não evolui apenas na questão do roteiro, mas também em termos técnicos. Se Almodóvar quisesse parar de filmar. eis aí um grande momento.

O filme tem dividido as opiniões ao redor do mundo. É amor ou ódio. Mas por que será que o novo filme de Almodóvar tem incomodado, para o bem e para o mal, tanta gente? 

O ser humano enquanto cobaia
O filme inicia retratando o cotidiano do médico Robert Ledgard (Antonio Banderas), da copera de sua casa, que é interpretada magistralmente por Marisa Paredes, que cuida da paciente/cobaia de Ledgard, Vera (Elena Anaya), que sob as mãos do médico interpretado por Banderas passa por uma série de cirurgias com o objetivo de trazer de volta a imagem da esposa morta e também uma pele que suporte temperaturas altas, visto que a esposa de Ledgard morreu carbonizada.

A grande jogada do roteiro de Almodovar, que é baseado no romance "Mygale" de Thierry Jonquet, é que ele trabalha a todo o momento com as aparências das coisas e dos sujeitos. Não à toa os enquadramentos do inicio da obra se focam sobre as roupas e nas expressões faciais. É como se o diretor quisesse passar a informação de que as pessoas, com a sua busca frenética nas intervenções cirúrgicas para esconder a idade, na realidade buscam esconder outros fatores.

Mas, sem cair no moralismo fácil, Almodóvar também está disposto a levantar outra discussão repleta de espinhos, que mexe com valores cristalizados na sociedade moderna: a fixidez e a naturalização das identidades de gênero. Com a personagem Vera, o filme busca desmistificar quem somos e o que somos desde que nascemos.

Com o seu personagem medicinal, Robert Ledgard, Almodóvar quer provocar e desnudar certas verdades em torno do corpo, dos gêneros e das sexualidades. De onde vem o nosso gênero? É natural? Nós os construímos? Em "A pele que habito" o corpo é algo plástico e moldado conforme o sujeito. Porém, desde o século XVII, quando as "verdades" em torno do sexo foram constituídas, este sujeito foi aprisionado e não pode mais decidir sobre o seu corpo e tudo que o envolve.

Portanto, a personagem Vera e o médico cirurgião plástico Ledgard têm uma função simbólica que busca levantar a discussão em torno da "verdade" medicinal sobre o corpo humano. Não esqueçamos que os catálogos de doenças são criados por médicos. Portanto, a partir da figura médica podemos perguntar, após assistirmos ao filme de Almodóvar: quem, afinal de contas, é o Frankenstein da sociedade moderna?

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