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Amy: um cuspe na cara dos caretas

Segundo relatou o segurança particular de Amy Winehouse (1983 – 2011), ela chegou a sua residência e foi para o quarto dormir. O segurança, depois de um bom tempo, resolveu checar a moça – algo que deveria ser de praxe – e notou que Amy não respirava. Chamou a ambulância e todo o resto já sabemos.

Amy dormia o sono dos justos. Aquele que, talvez, ela procurasse há tempos e encontrou.

Na canção "Back to Black" Amy já dizia que "caminhava por uma trilha tortuosa" e avisava que as "suas chances estavam empilhadas e que, portanto voltaria ao seu luto". E ela viveu o seu luto, mas de que e de quem? Das regras limitantes e dos seres medíocres. Nada mais irritante para uma época em que a imprensa sensacionalista e conservadora adora escolher os seus alvos e fazer deles um exemplo de como não se comportar.

Amy nunca se dobrou.

Os dois discos de Amy Winehouse representam momentos distintos de sua vida. "Frank"  representa a entrada de cena de Amy para a indústria fonográfica, um disco que foi pra lá de elogiado e lhe rendeu vários prêmios. Apesar de que, desde aquela época – 2003 – a cantora já ser apontada como uma renovação para a soul music, Amy gritou aos quatro cantos para que as pessoas não comprassem o seu disco, pois, a intervenção dos produtores havia deturpado a sua obra. A jovem cantora já dava sinais de que não ficaria de joelhos para os ditames da indústria fonográfica.

E assim foi. Em 2005 ela engata um namoro com Blake Fielder-Civil e que muitos o apontam como o culpado para que Amy iniciasse experiências com drogas pesadas. A partir de então a moça se tornaria pauta fácil dos tablóides britânicos. A relação durou sete meses. Winehouse então se interna em estúdios e começa a compor o seu disco obra prima, "Back to Black", cuja obra faturou cinco Grammys. Um marco.

O nome da obra já dizia por onde Amy caminhava – de volta para o precipício – e não apenas a faixa título, mas todas as outras canções eram um retrato fiel de seus sentimentos e de uma época que vivia. Em 2007 ela voltaria para Blake e se casaria com o rapaz, que seria preso logo depois por agressão. A separação foi iminente e devastadora para Amy. Dali em diante Amy nunca mais escondeu a sua dor. Ela era pública, entregue e verdadeira.

Por mais que a comparação seja óbvia, assim como Janis Joplin, Amy fez da sua dor a sua arte e a sua trilha. Ambas tentaram por diversas vezes abandonar o vício: Janis por heroína e Amy por crack. Mas não conseguiram. Porém, não fizeram disso um mar de lamúrias e nem foram a canais de televisão chorar e pedir desculpas pelo "péssimo exemplo". E claro, a partir daí iniciou-se uma aposta mórbida sobre o quanto Amy permaneceria viva.

E foram os seios para fora, as dormidas na praia, os escândalos em pubs, aparições e canjas surpresas em bares… Amy dava as costas para toda a campanha moralista que se empregava contra a sua pessoa. E tal rebeldia já existia nos momentos pré- Back to Black. Quando o seu ex-gerente pediu que ela fosse pra clínica se tratar,  a moça o demitiu e criou, sem querer, uma canção clássica e hino de uma geração. Sim, "Rehab" representa toda uma geração.

Era liberdade demais para uma sociedade careta e paranóica.

Quando resolveu dar cabo a sua vida, a escritora Virginia Woolf escreveu que perdera o sentido de viver, que havia perdido o amor e que não havia mais motivo para continuar viva. Em sua ultima semana de vida, Amy passou todos os dias em festas e com amigos. Talvez estivesse se despedindo. Talvez estivesse cansada de tudo o que a cercava e provavelmente, ao deitar, sabia que dormiria o sono dos justos… Deitou, fechou os olhos e descansou.

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