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Anita Costa Prado

No maniqueísta e por vezes machista universo das HQs, uma personagem vem lutando bravamente pela visibilidade da comunidade GLBT brasileira: é Katita, a garota assumida, meiga e engajada criada em 1995 pela roteirista e poetisa Anita Costa Prado.

Antes de ganhar um livro em 2006, “Katita – Tiras Sem Preconceito”, as tirinhas de Katita eram publicadas em pequenos jornais e fanzines – elas foram censuradas uma única vez em um jornal de bairro de Belo Horizonte. A criatividade de suas histórias e o traço talentoso de seus quadrinistas, entre eles Laudo Jr., Lauro Roberto, Leonardo Braz Muniz, Tarcílio Dias Ferreira e Ronaldo Mendes, conquistaram público e crítica e Katita foi merecidamente agraciada com dois Prêmios Angelo Agostini, o mais conhecido e respeitado prêmio do quadrinho nacional.

No ano passado, a personagem de Anita Costa Prado virou porta-voz da comunidade GLBT em postais e na cartilha da visibilidade lésbica publicada pela Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual (Cads), da Prefeitura de São Paulo.

Em entrevista ao Dykerama.com, Anita fala sobre a criação de sua personagem e comenta o futuro dos quadrinhos com temática gay e lésbica. Confira.

Dykerama.com – Desde quando existe a personagem Katita? Como ela surgiu?
Anita Costa Prado – Ela existe desde o dia 22 de março de 95. Sempre gostei de quadrinhos e sentia falta de uma personagem lésbica, feminina e charmosa. Decidi então criar a Katita.

Dykerama.com – Como tem sido ahistória da Katita até então?Onde ela já foi publicada?
Anita – A Katita só era publicada em pequenos jornais e fanzines, salvo raras exceções. Havia muito preconceito, mesmo velado, no início. No que se refere às editoras, eu não conseguia retorno satisfatório até que em 2006 a editora Marca de Fantasia apostou na personagem e lançou o livro “Katita – Tiras Sem Preconceito”.

Dykerama.com – Quais são os principais assuntos que você pretende discutir com as tirinhas?
Anita – As tirinhas retratam o cotidiano de uma jovem lésbica e boa parte delas é composta de situações reais, com uma pitada de humor e malícia, mas sem apelações verbais.

Dykerama.com – Atualmente, poucos são os personagens dos quadrinhos assumidamente homossexuais. O mercado editorial dos gibis, porém, ensaia algumas “saídas do armário”. Quando você criou Katita, você imaginava que ela sofreria algum tipo de preconceito ou até mesmo boicote das editoras e do público?
Anita – Na verdade, há um desconhecimento em relação aos personagens homossexuais, nem sempre merecendo a divulgação merecida, a maioria deles sendo confinados às pequenas editoras ou publicações sem ampla distribuição. Eu sabia das dificuldades que teria com a Katita, mas a teimosia é uma das minhas características e não sosseguei enquanto não assinei contrato com uma editora respeitável. Eu poderia simplesmente pagar para uma gráfica imprimir o livro da Katita, mas isso não me traria satisfação nem a certeza de que uma personagem lésbica poderia cativar uma editora que apostasse no seu sucesso e cair nas graças dos leitores.

Dykerama.com – Qual é o futuro dos personagens gays e lésbicos dos quadrinhos? Há espaço para eles em nossa sociedade?
Anita
– Agora as coisas começam a ficar menos difíceis e o futuro certamente será mais ameno, pois as editoras começaram a perceber que existe público leitor para personagens homossexuais e existe espaço para eles, decididamente.

Dykerama.com – Fale dos prêmios que a Katita já recebeu. Foram dois Prêmios Angelo Agostini, certo?
Anita
– A Katita recebeu o Prêmio Angelo Agostini do ano passado, como melhor lançamento, e ganhei como melhor roteirista, além de ter sido indicada para o HQ MIX, como roteirista-revelação. Este ano ganhei novamente o Angelo Agostini como melhor roteirist,a mas não só pela Katita, pois tenho feito roteiros sobre assuntos variados, para desenhistas parceiros.

Dykerama.com – O que a comunidade GLBT, especialmente as lésbicas, acha do seu trabalho?
Anita
– A maioria curte a Katita, mas não se pode agradar a todo mundo. Tem gente que gostaria de vê-la com uma namorada fixa, outros sugerem que ele não use roupas tão sensuais. Por outro lado, tem pessoas que mostram uma adoração – já cheguei a receber até e-mail sobre uma garota que queria fazer uma tatuagem da Katita…

Dykerama.com – Você também tem um forte trabalho como militante da causa GLBT. Pode me explicar como é sua atuação nesse sentido?
Anita
– Na verdade nunca me considerei militante, embora seja diversas vezes citada como tal. Comecei a me aproximar verdadeiramente das causas ligadas à comunidade GLBT depois que conheci o pessoal da Cads (Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual), que fez exposição para comemorar 10 anos da Katita e utilizou imagens da personagem em folhetos, postais e na cartilha da visibilidade lésbica do ano passado.

Dykerama.com – Além de roteirista e militante, você também é poetisa. Como os versos influenciam o seu trabalho nesses outros campos de sua vida?
Anita
– A poesia está em tudo o que olho, sinto e faço. Vejo a vida de forma poética, no sentido da sensibilidade extrema, atenuada por palavras que coloco no papel, para expressar o que sinto.

Dykerama.com – Você tem planos de criar novos personagens com a temática gay?
Anita
– Vários personagens de apoio da Katita são gays e vêm conquistando leitores: o Dodô, um negro adorável e paquerador é o melhor amigo da Katita e assumidíssimo, além de outros personagens que vêm sendo trabalhados.

Dykerama.com – Gostaria de deixar algum recado?
Anita
– Gostaria de agradecer pela entrevista, que é um espaço para mostrar meu trabalho, e sugerir que as pessoas conheçam a editora que me acolheu e que tem alguns títulos onde a homossexualidade é abordada em quadrinhos interessantes, engraçados e reflexivos: www.marcadefantasia.com.br.

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