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Anti-exemplo: LGBTs se digladiam na mídia e dão tiro no próprio pé

Quem ligou a TV aberta ou ficou de olho nas notícias em torno da pauta LGBT durante a semana se assustou: os “comuns" ataques contra os direitos LGBT, frases preconceituosas e embates não vieram de figuras como Levy Fidelix e Bolsonaro. Mas de – pasmem! – outros LGBTs.

Munidos da premissa “liberdade de expressão” e de um “moralismo" quase incompreendido, eles mostram que o preconceito é generalizado e que mesmo pessoas ditas discriminadas estão sujeitas a reproduzir a homofobia e a transfobia social.

Primeiro, a (mulher trans) Talita Oliveira foi ao palco do programa “Superpop”, da Rede TV!, apoiar os discursos do pastor Marco Feliciano e Levy Fidelix. Ela chegou a minimizar a homofobia no Brasil, “porque heterossexuais também morrem com a violência”, e a dizer que é contra a lei que criminaliza a homofobia, porque “o mundo não é LGBT”.

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Depois, o jornalista (gay) Felipeh Campos voltou a soltar farpas contra as cantoras (lésbicas) Pepê e Neném em A Fazenda, da Record. E, no auge da briga, fez o que muita gente homofóbica faz: menciona a orientação sexual como forma de xingamento. “Sapatão”, soltou o jornalista, que se justificou: “Elas me xingaram primeiro”.

Anteriormente, Felipeh já havia dito que elas se vestem como “motoboys” e que deveriam aparecer “melhorzinhas” para tentar dar uma alavancada na carreira, pois estão “declinando”. Em um vídeo anterior, Thalita chegou a criticar até as roupas das travestis que trabalham na prostituição, pois são “indecentes”. Conseguem enxergar a contradição?

+ Felipeh Campos humilha e torce por ostracismo de Pepê e Neném

Os exemplos não param… No Casos de Família, do SBT, um amigo (gay) disse para o outro (bissexual) que ele precisa decidir se vai gostar de homem ou mulher – como se bissexualidade não existisse. Um jornalista (gay) foi defender Pepê e Neném no programa “Hoje em Dia”, da Record, e disse “se elas são lésbicas, o ‘PROBLEMA’ é delas”. O ex-BBB Serginho também se envolveu em uma polêmica com um seguidor que pediu que ele se assumisse trans logo, pois ele não é andrógino. Serginho respondeu no mesmo nível de preconceito: “Não falo com índio”.

Mas por qual motivo existe preconceito entre os próprios LGBT? Em seu documentário, Meu Amigo Claudia, a ativista LGBT Claudia Wonder (1955-2010) opinou:

“Existe um grande preconceito entre as pessoas ditas discriminadas. É o gay que não gosta de travesti, é travesti que não gosta de sapatão, é transexual que não gosta de ser confundida com travesti. Quer dizer, tudo isso é gerado pela homofobia internalizada de cada um. Porque, no fundo, ninguém quer ser viado e ninguém quer ser sapatão. Todo mundo quer aparecer bonitinho e 'limpinho', sabe como é? (Na cabeça dessas pessoas)quanto mais parecido com hétero, mais você fica 'limpinho'. Mas por que eu tenho que parecer hétero? Por que eu tenho que parecer mulher e não posso parecer um caminhoneiro ou uma caminhoneira?”.

O que muita gente não entende é que, ao se digladiar com discurso preconceituoso e ir contra a luta pelos direitos LGBT para mais de 60 mil televisores (cada ponto no Ibope), o LGBT dá um tiro no próprio pé. Reforça e incentiva o discurso dos LGBTfóbicos, o preconceito na sociedade em geral, apoia o conservadorismo e o moralismo. Sobretudo faz campanha contra os próprios direitos conquistados depois de décadas. Ou elas acham que poderiam se assumir LGBT e gozar de alguns direitos se apoiassem pessoas como Feliciano lá atrás?

A lei do retorno é precisa e pode aparecer cedo ou tarde. Seja em um xingamento na rua, em direitos negados, em uma lâmpada na cabeça ou em um assassinato com requintes de crueldade. Afinal, como bem adiantou Simone de Beauvoir (1908-1986), “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.

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