Depois de uma sessão de “Sex and the City – o filme”, não há como não se deixar levar por reflexões que a série costumava colocar na minha cabeça. Quem é fã de Carrie e suas amigas vai entender do que estou falando, depois de assistir ao “episódio-jumbo” de 148 minutos que está em exibição nos cinemas.
A série nos prometia um filme com tiradas inteligentes e sarcásticas por parte das quatro protagonistas e risadas certas. E cumpre este papel. O que eu não esperava era que as lágrimas também viessem, uma vez que a série havia me tirado apenas algumas e com muito custo.
Depois da sessão, ainda inebriado por algumas emoções contraditórias, levei meu traseiro desempregado através das escadas rolantes para um cigarro no estacionamento do shopping e uma busca pelo ponto de táxis. Enquanto descia por elas, observei meu reflexo no espelho acima de mim. Por que ele não refletia o mesmo retrato fabuloso que havia sido pintado dos felizes moradores de uma megalópole na telona? Daria tudo certo no meu final?
Dei de cara com um bando de carros brancos parados com motoristas cochilando dentro deles. Mas fiquei ainda sobre a marquise com meu cigarro entre os dedos observando aqueles carros a me esperar do outro lado da rua. Quando estava perto do filtro, arremessei-o no chão e fiquei observando o momento em que ele acabava de consumir sua chama, enquanto uma outra começava a queimar em mim. Será que durante todo este tempo em que me vi tentando achar o propósito das coisas e os meus próprios, eu estava observando de perto a chama dos outros queimar sem nunca me acender?
Uma pessoa pode passar a vida inteira correndo atrás de uma vida fabulosa igual a do cinema, sem nunca perceber o quanto é inatingível aquele objetivo. Porque não é verdadeiro. Outro dia assisti uma entrevista de Contardo Calligaris, psiquiatra e escritor, em que ele dizia que nossa vida deveria ter as qualidades de uma ficção possível.
Eu buscava um grande sucesso de vendas do meu primeiro livro “Cicatrizes e Tatuagens”, que não veio. Um lançamento com muitas bandejas de cosmopolitans sendo servidas e muita gente bonita, que nunca aconteceu. Minha vida estava sendo pautada por um patamar inatingível da ficção criada por Candace Bushnell (autora do livro “Sex and the City”), Darren Star (Criador da série) e Michael Patrick King (roteirista e diretor de vários episódios da série e do filme). Quando é que meus patamares seriam erguidos por mim mesmo?
O que eu ainda não tinha entendido é que o brilho das coisas está na realização dos projetos almejados. E não no reflexo dos cristais swarovski que decoram a cena. Mas hoje, um ano após o lançamento, já é hora de começar a me atribuir um dado sucesso pelo simples fato de ter publicado um romance.
As pessoas cometem este tipo de atrocidade o tempo todo. É como se nosso sucesso pessoal estivesse unicamente ligado a uma carreira de sucesso, a uma conta corrente recheada e a um relacionamento afetivo que funcione. Solteiro, desempregado e na situação transitória de gestação do próximo livro, sim! Derrotado e sem noção da minha realidade ou das coisas que me cercam, não mais!
A vida, como os filmes, pode conter curvas inesperadas. Cheque se os espelhos não aumentam ou diminuem os êxitos alcançados ao refleti-los, escreva seu próprio roteiro e boa viagem!