‘Depois de sábado à noite’ é o romance de estréia do carioca Kiko Riaze. Lançado no final de novembro, o livro adota ao longo da trama um tom um tanto quanto conservador, mas isso não tira a fluidez e narrativa da história, que não perde sua maior característica: fazer refletir sobre a realidade do mundo gay nos dias de hoje.
Nas páginas de "Depois…" o leitor é convidado a acompanhar a saga de Cadu, um gay beirando os trinta anos, em sua busca por um amor. Nem precisa dizer que o desespero do moço acaba sendo também seu calcanhar de Aquiles. Se alguém aí procura uma alma-gêmea, é bom que leia o livro e faça completamente o oposto do que o protagonista faz.
No caso, não é recomendável ligar às 8h de uma segunda-feira para o bofe que você conheceu no sábado à noite. Também não comece a namorar depois de dois dias que saiu pela primeira vez com um cara. Ah, e também não mande SMS para uma pessoa 10 minutos após ter saído do lado dela.
Se não fosse um personagem fictício, Cadu poderia ser daqueles conhecidos irritantes com o qual discordaríamos sempre. Como faz parte de uma obra, fica valendo a máxima que, diante de boa literatura, não se têm que concordar. No mais, depois de escrito, o livro é cada vez menos de quem escreveu e cada vez mais de quem o lê. Daí o envolvimento ou não com a história.
O tom conservador da obra dá-se em cima de certas observações do autor/narrador. Algumas delas são feitas baseadas em clichês, como no caso do cara que faz sexo anônimo ser casado com uma mulher; da "mulher-bicha" viver cercada de amigos gays, ferver nas pistas das boates, mas reagir mal à saída de armário de um parente; e do gay que não se aceita, tem uma baixa auto-estima e isso se reflete em sua forma física.
São situações comuns, capazes de acontecer e freqüentes, mas colocadas de uma forma generalizada como se não houvesse outras realidades possíveis. Chega a ser um tanto quanto senso comum. Explicitadas desta forma, é mais ou menos como se todo cara que faz sexo anônimo tivesse problemas em lidar com sua homossexualidade, e como se todas as pessoas que buscam diversão na noite não pudessem estar "tranqüilas" em relação a assumir um compromisso ou isso ser um problema para o caso de não quererem namorar.
O final é bem água com açúcar, uma coisa comédia romântica norte-americana/auto-ajuda. O rapaz pára de repetir os mesmos erros (curar um amor com outro ou com substâncias ilícitas), é como se todo aquele passado fosse apagado e não mais existisse. A partir do momento que "conhece a verdade e vê a luz" (fica "careta" e "família"), sua vida, inclusive a amorosa, melhora.