No dia 10 de outubro, sexta-feira, Jarbas Rezende, 25, e José Eduardo, 18, juntos com alguns amigos foram para uma festa realizada no Centro Acadêmico de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. No local, "acontecem bailes funks toda as sextas", diz Jarbas. No desenrolar da festa, o casal resolveu dançar em cima de um palco. "Lá têm várias caixas de som espalhadas que servem de palco", detalha o estudante.
"Estávamos só dançando e de repente eu e o meu amigo resolvemos nos beijar. Do nada, o DJ parou a música, acendeu as luzes e começou apontar para nós dizendo para parar", conta Jarbas. Após a atitude do DJ, que segundo os entrevistado é o presidente do Centro Acadêmico de Medicina Veterinária da USP, todos presentes na festa o apoiaram. Segundo os estudantes dois homens grandes, os puxaram com muita força e os colocaram para fora. Jarbas conta ainda que, além dele e de Eduardo, os amigos também foram expulsos e alguns que tentaram defendê-los foram ameaçados de agressão.
Em seu relato, Jarbas diz que mesmo sofrendo tal discriminação não pôde contar com a ajuda da Guarda da USP. "A polícia demorou muito para aparecer, foram omissos". José Eduardo, o rapaz que dançou e beijou Jarbas, falou que se sentiu surpreso. "Venho do interior, nunca passei por isso lá. Aí sou discriminado na USP e em uma cidade como São Paulo, que aparentemente é uma cidade aberta à diversidade", afirma o rapaz. Ele também reclama da guarda da USP que "não fez nada". "Fiquei muito chateado e decepcionado", conta.
No momento em que foram expulsos da festa, os meninos disseram que iam chamar a polícia. Para a surpresa de ambos, pessoas presentes no evento falaram que se o casal chamasse a polícia eles seriam denunciados por "atentado ao pudor". "Para eles, éramos nós que estávamos errados", conta Jarbas. "Eu gostaria de acreditar que se trata de ignorância, pois assim existiria a possibilidade de refletirem e mudarem tal postura. Mas, infelizmente, se trata de homofobia e hipocrisia. As meninas ficam praticamente nuas no palco e dois homens não podem se beijar?", questiona Eduardo.
Sobre as medidas que vão tomar, ambos farão B.O na DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) e encaminhar moção a reitoria. "O presidente do C.A (Centro Acadêmico) entrou em contato comigo, parece que quer pedir desculpas, mas a única que irei aceitar é uma retratação pública", deixa claro Jarbas. "Espero que a reitoria se pronuncie, é o mínimo que eles podem fazer", acredita José Eduardo.
Dario Neto, do grupo CORSA e mestre em Letras pela Universidade de São Paulo, que está acompanhando o caso e ajudando quanto as medidas cabíveis a serem tomadas diz que o "o mínimo que a polícia poderia ter feito era ter levado os dois para a delegacia e ter feito um B.O".
Uma carta já foi preparada para ser encaminhada à ouvidoria e reitoria da USP. "Nela nós pedimos duas medidas a serem tomadas: que o presidente do C.A de Veterinária faça uma retratação pública e que o centro também promova uma festa da diversidade sexual", revela Dario que também não descarta a possibilidade de "fazermos um beijaço no C.A de veterinária".
Dimitri Sales, da Defesa e Cidadania do governo do Estado de São Paulo, explica ao A Capa que as punições nesse caso "são individuais", pois se trata de uma pessoa que praticou atitudes homofóbicas. Sobre a questão da guarda, "se for provado que houve omissão, aí sim pode caber uma ação a polícia", revela o advogado. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da universidade, que revelou desconhecer o caso. Tentamos falar também com o presidente do C.A de Veterinária, mas não obtivemos sucesso até o fechamento desta matéria.