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Após cancelamento de exposição com Jesus gay, fotógrafo é ameaçado de morte; leia entrevista

Um Jesus sarado é rodeado por outros homens sem camisa e tatuados, alguns deles em poses sensuais. Essa é a leitura do fotógrafo espanhol Fernando Bayona para o quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, uma das obras mais clássicas do Renascentismo.

O que parecia ser uma clara provocação à Igreja Católica e seus dogmas se transformou em alvo de manifestações homofóbicas de grupos ultraconservadores de Granada, na Espanha. A foto em questão fazia parte da mostra "Circus Christi", que teve de ser cancelada após a galeria que a abrigava sofrer atos de vandalismo.

Em entrevista ao site A Capa, Fernando Bayona conta que não quis criar polêmica com as imagens, entre elas a que o artista intitulou de "Beijo de Judas", na qual dois modelos masculinos, um com a camisa aberta no peito, trocam carícias. No mesmo retrato, o casal é acompanhado por um homem que faz sexo oral em outro (veja outras fotos no álbum abaixo).

A mostra ficaria em cartaz até 5 de março, mas como lamenta o fotógrafo, não poderá ser mais realizada, a não ser que "algum corajoso se atreva a me conceder um lugar para a exposição".

Conte-nos um pouco sobre você. Como começou a fotografar?
Me formei na Faculdade de Belas Artes de Granada, onde me especializei em escultura, estudando na metade do caminho entre Espanha e Itália. Após minhas primeiras incursões profissionais no mundo da escultura, solicitei uma bolsa de fotografia, bastante importante no panorama nacional, que me foi concedida, e isso desencadeou que iniciasse no mundo da fotografia. Posso dizer que comecei um pouco por casualidade. Essa produção me levou a solicitar outras bolsas e realizar cada vez mais projetos fotográficos. Dali em diante, não parei mais de trabalhar.

Como surgiu a ideia da exposição "Circus Christi"?
Olhando ao meu redor, nem tudo na Igreja é maravilhoso, também tem suas misérias que tenta esconder, basta mencionar os casos de pedofilia que aconteceram na Irlanda do Norte durante anos, as reticências por parte da Igreja de aceitar o uso do preservativo, que faz com que a Aids na África seja uma autêntica praga social, as declarações e proibições contra a comunidade homossexual por parte da instituição eclesiástica, e muitos etc. Odeio a moral dupla que a Igreja alardeia utilizando o púlpito para controlar os fiéis, enquanto dentro da organização não cumprem com as normas que pregam.

Que tipo de polêmica você quis levantar com a mostra?
Não queria levantar nenhum tipo de polêmica, mas pelo que parece minhas fotos deviam conter uma mensagem subversiva, dada a dimensão que tomou o tema. Alguém se sentiu muito ofendido e isso significa que minhas fotos tinham algum tipo de verdade.

A exposição não foi bem recebida por grupos católicos. Qual é a situação dela no momento?
A mesma que no início da polêmica ou talvez pior. Fui ameaçado de morte, continuo recebendo e-mails que me ameaçam ou chamadas no meu celular nas quais me insultam. Para agravar ainda mais a situação, há dois dias a Galeria Yolanda Rojas sofreu diversos atos de vandalismo, quebraram vidros das janelas, jogaram objetos dentro da galeria e tentaram arrombar as portas. Tudo porque defenderam a minha exposição.

Você acredita em homofobia como motivação para essa violência?
É evidente que esse setor ultraconservador rechaça frontalmente a homossexualidade e encontrou na minha exposição uma desculpa perfeita para nos contra-atacar. Acredito sim em homofobia, toda a polêmica suscitada pela minha exposição é mostra clara disso.

Em quais artistas você busca inspiração? Gosta de trabalhos com apelo homoerótico?
Busco inspiração em obras clássicas de história da arte, em pintores como Caravaggio, Rubens, Mantegna, em fotógrafos contemporâneos como David LaChapelle, Erwin Olaf, Eugenio Recuenco, Jeff Wall, na publicidade, na minha vida cotidiana… Não me interesso em absoluto por trabalhos de apelo homoerótico, não é meu estilo.

O que você pensa fazer para continuar a ter o direito de expor seu trabalho?
A exposição não vai continuar, foi fechada definitivamente, o que implica que não poderá ser mais realizada em outro local. Só me resta esperar que algum corajoso se atreva a me conceder um lugar para a exposição.

:: Saiba mais sobre o fotógrafo em seu site oficial.

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