Chico Alencar (PSOL-RJ), 60, esteve presente à I Marcha Nacional LGBT contra a Homofobia. O deputado federal concedeu entrevista exclusiva à reportagem do site A Capa, que também esteve presente à manifestação que aconteceu na última quarta-feira (19) em Brasília.
Alencar, que iniciou sua carreira política nos anos 80, desligou-se do Partido dos Trabalhadores (PT) em 2004 por discordar das diretrizes que o governo Lula seguia à época. Com humor típico carioca, Chico declarou que as "bancadas religiosas são sectárias" e atuam "contra a democracia".
A respeito da aprovação do PLC 122, que criminaliza a homofobia, e da união civil, o parlamentar disse que acredita na aprovação de ambos desde que o movimento vá "cada vez mais para as ruas". O parlamentar também acredita que com a pressão popular o Congresso Nacional não terá como ignorar a pauta gay e que, assim, as "bancadas religiosas e sectárias ficarão isoladas".
Qual é a sua opinião a respeito da bancada religiosa?
A bancada religiosa é antirreligiosa no sentido de que eles não percebem que religião é religar. Todas as religiões são um suspiro de setores da sociedade por uma vida mais plena, mais iluminada, mais inteira e consequentemente sem qualquer sectarismo, sem qualquer discriminação. O velho Marx já falava: "Religião, coração de um mundo sem coração. Suspiro de uma criatura oprimida. Espírito de uma situação sem espírito". Portanto, é uma contradição, é um absurdo uma bancada se dizer "religiosa" ou "evangélica" e ser homofóbica, sectária, discriminar, não respeitar a diversidade humana que é o que há de mais bonito na condição humana. Agora, se for fundo no debate e na mobilização, eu tenho certeza que esse grupo fundamentalista que eu chamo de antirreligioso vai ser reduzido a sua real dimensão, que é minoritária.
Como reduzi-los à sua real dimensão?
Com a mobilização, que fará com que a gente aprove a lei antihomofobia e o direito à união civil.
O estado é laico. Essas bancadas não são ilegais?
Pois é, essas bancadas não deviam existir. A bancada da igreja tal, ou da denominação religiosa qual. Os partidos não são religiosos. Aqui no Brasil, não temos partido assumidamente religioso, e é assim que deve ser. Nós estamos num Estado republicano. A primeira medida da República quando foi proclamada, em 1889 no Brasil, foi separar Igreja e Estado. O Estado laico significa o respeito às opções filosóficas, religiosas, existenciais, afetivas de todos e não estabelecer restrições ou achar que a minha concepção religiosa tenha que inteirar sobre os outros. O Estado laico sempre fica ameaçado quando há essas visões. E mais: a própria República vai sendo desproclamada cada vez que um grupo sectário e dogmático age dessa maneira.
Aos parlamentares que vão à tribuna ou em canais de televisão e comparam homossexuais com necrófilos e pedófilos, cabe ação?
Claro que cabe. Isso aí é injúria, calúnia e difamação. Eu entendo que as entidades de direitos LGBT deveriam processar qualquer um que faz esse tipo de comparação. A imunidade parlamentar não dá direito para ofender os outros. Ele pode dizer que pela concepção religiosa dele, não pode aceitar e que, segundo o Deus dele, que não é o meu, por exemplo, quem tem a opção (sic) homoafetiva é alguém que está em pecado… O cara até pode falar isso, mas, de preferência, no púlpito da igreja. Agora, o parlamentar é eleito, seguramente, por gays, lésbicas, transexuais…
E por que o Parlamento se cala?
O Parlamento não se cala. Você ainda tem uma voz conservadora predominante que prefere não tocar nesse assunto, pois omissão é concordância. Mas há setores, o meu no PSOL, por exemplo, alguns setores do PT e alguns parlamentares que estão aqui (na I Marcha Nacional LGBT), tanto que existem as leis que estão tramitando. Isso é um sinal dos tempos. Antigamente nem projeto de lei era apresentado, mas a gente precisa aprová-los. Quanto mais o movimento gay gritar e for para a rua, mais a nossa voz cresce dentro do Parlamento.