Um dos jornais mais revolucionários do Brasil – e que peitou a ditadura como ninguém – está fazendo aniversário.
A Editora Desiderata está lançando dois livros em homenagem à publicação: "Antologia do Pasquim" (R$ 79,90) e "Pasquim 40 anos" (R$ 39,90).
Eu não sabia, mas as divas Rogéria e Elke Maravilha já foram capa do jornal. Em seu artigo intitulado "Madame Satã, a ‘rainha’ negra da boemia brasileira", James Green fala do fenômeno Rogéria numa época em que os homossexuais eram perseguidos.
"Assim como Rogéria ganhou a aprovação dos editores de O Pasquim – e pode-se crer que de uma parte significativa de seus ávidos leitores – por ser um modelo de feminilidade, apesar de biologicamente do sexo masculino, também esse modelo de masculinidade conquistou a aprovação porque, apesar de bicha, representava a imaginada masculinidade crua das classes baixas criminosas", escreveu o pesquisador.
Green continua, observando que essa exposição de uma artista trans num jornal como "O Pasquim" também apresentava um lado obscuro e bem menos glamuroso: "A atuação de Rogéria como uma epítome da feminilidade reforçava códigos tradicionais de gênero e, neste sentido, o discurso heterocêntrico e masculinizado convencional do tabloide permanecia resguardado." Os homossexuais "comuns", acrescenta Green, "sofriam severa difamação por parte dos jornalistas de ‘O Pasquim’".
E, quem diria, foi "O Pasquim" quem popularizou a expressão "bicha", como fez quando anunciou em uma de suas edições que "Todo paulista é bicha". James Green diz em seu artigo que a escolha da manchete teve caráter puramente comercial: "Num artigo no interior, o humorista Millôr Fernandes explicava que as vendas haviam caído e que os editores, então, tinham inventado a manchete inflamada a fim de atrair a atenção para o jornal".
Será que, hoje, um jornal que fizesse a mesma escolha poderia ser chamado de homofóbico? Ou a imprensa já faz isso quando fala sobre a violência da Parada Gay abordando apenas um aspecto dos fatos de forma sensacionalista?
