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As gays não comemoram

Na quinta-feira (5) o Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade a extensão da validade das uniões estáveis para casais homoafetivos. Aqui pelo site A Capa fizemos cobertura em tempo real via Twitter. O burburinho foi muito forte e os internautas, boa parte, com certeza, composta por LGBT, colocou a hashtag #uniaohomoafetiva em primeiro lugar nos Trends Topics (audiência do Twitter) em primeiro lugar e entre os três assuntos mais comentados nos TT’s internacional.

A impressão que se tinha é que, desde o momento em que Gilmar “Dantas” Mendes declarou o seu voto favorável a união homoafetiva e então já era certa a sua aprovação é que a Avenida Paulista (SP) seria tomada, em parte é claro, por pessoas da comunidade gay. Mas, o erro já começou com um grupo da internet que convocou manifestação ou comemoração para sexta-feira (6), ou seja, um dia depois da vitória considerada histórica até mesmo para heterossexuais e para a mídia, que em boa parte é heteronormativa.

Qual é o sentido de comemorar algo um dia depois do fato? Por acaso, os torcedores de futebol comemoraram algum título futebolístico depois de um dia da vitória? Claro que não, isso não faz o menor sentido, pois, é na hora e no calor do momento que se comemora algo, ainda mais com a importância factual e simbólica que possui a decisão unânime do STF. Mas, o que se viu nos atos de quinta-feira e sexta-feira foi algo melancólico e constrangedor.

Na quinta-feira (5) uma repórter da TV Brasil que estava na Paulista para cobrir a comemoração uma hora perguntou, ou melhor, comentou, “nossa, mas só isso de gente? Pensei vocês fossem tomar as ruas”. Pois é, não tomamos, melhor, não tomaram, pois este que vos escreve e mais umas 99 pessoas foram a Avenida Paulista comemorar. Porém, mais do que comemorar a aprovação do reconhecimento das uniões estáveis homoafetivas, as pessoas lá estavam por se tratar de um primeiro reconhecimento legalista da comunidade LGBT, que até então vivia a margem da sociedade dita “legal” e não possuía um direito sequer.

As beeshas não comemoram. Não comemoram por que a maioria acha um porre falar de política, mas adora reclamar que não têm direitos e quando direitos são aprovados não é capaz de comemorar. E, ainda mais como nesta ocasião, onde, a quase equiparação de direitos foi conquistada. Infelizmente o nível de despolitização entre as gays (entre todos) anda muito alto. Será que agora as gays vão acompanhar mais? Não acredito. Fosse assim, pelo menos umas 10 mil pessoas deveriam ter comparecido na Paulista.

Pessoalmente falando foi constrangedor o vazio encontrado na Avenida Paulista que, alem de ser local de forte freqüência gay, tem sido palco de manifestações homofóbicas. Particularmente não tenho pretensões de casar ou estabelecer uma relação estável, pelo menos neste momento, mas fui comemorar, pois, entendi que se trata de um reconhecimento de uma parcela da sociedade, trata-se de um avanço da democracia… De uma só vez o Brasil deixou para trás países como a França, que as pessoas adoram citar como exemplo de sociedade democrática e civilizatória.

O Brasil avançou em sua democracia legalista, agora é preciso que as gays também avancem no que diz respeito ao mundo, vulgo Brasil, e o seu lugar nele. Não é preciso virar ativista para saber quais são os seus direitos e deveres. A internet está aí pra isso. A impressão que se teve/tem é que as pessoas heterossexuais estavam mais satisfeitas do que as homossexuais. Triste ironia.

Se na quinta-feira (5) 100 pessoas foram para a Avenida paulista comemorar os seus direitos legalizados, no sábado (7) mais de 800, no mínimo, se mobilizaram para ver o “show” de Marilac, que ficou famosa por conta de seus “bons drinks”… Nada contra, adoro a noite e uma boa balada, mas, porrãn… Só para citar um exemplo, quando o parlamento argentino aprovou o casamento igualitário, milhares de argentinos tomaram as ruas de lá…

Podem dizer que sou chato, moralista e tudo mais, mas os fatos estão aí e eles revelam uma comunidade LGBT que em sua maioria está se lixando para a questão de direitos… Isso enquanto não precisar deles.

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