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As lésbicas na África do Sul

Na África do Sul, uma dupla de bailarinas se apresenta nas periferias para denunciar a violência sofrida pelas lésbicas no país, segundo informações do AGmagazine. A obra “Kutheni?” (na língua local xhosa) pretende denunciar por meio da dança a situação de discriminação e medo em que vivem as lésbicas nos guetos, onde a violação “corretiva” é a ordem do dia e onde ser homossexual pode conduzir à morte.

As bailarinas perguntam tristes e agressivas ao público: “Senzeni na? Senzeni na?”. A pergunta quer dizer “o que temos feito” e faz parte de uma música muito conhecida nos tempos do Apartheid. A coreógrafa, Mamela Nyamza, explica que além de denunciar os crimes – nos últimos 10 anos pelo menos 38 lésbicas foram assassinadas no país – pretende mostrar “a luz que surge em meio à obscuridade de um mundo secreto onde a intimidade é escondida e suprimida, uma luz que é o direito de amar e eleger a quem se ama”. Assista ao vídeo clicando aqui.

A África do Sul dispõe de uma das legislações mais progressivas do mundo e permite o casamento homossexual. Mas uma coisa é ser homossexual nos bairros ricos e de classe média, outra é ser gay nos guetos da periferia das cidades. “Estamos assistindo a um retorno à sociedade tradicional patriarcal, algo que se dá em todas as sociedades pós-coloniais”, explica Vanessa Ludwig, diretora da ONG Triangle, “a violência contra a mulher aumenta progressivamente e contra as lésbicas em particular porque elas são um desafio tangente a essa nova masculinidade patriarcal de controle da mulher”.

Ludwing diz que a sua associação recebe 10 denúncias por mês por parte de lésbicas que foram discriminadas, “mas a violência contra a mulher é tal que às vezes é difícil saber se a causa da agressão é a orientação sexual ou apenas por ser mulher”. De acordo com um estudo recente da Action Aid, meio milhão de mulheres são violentadas no país por ano.

O mesmo estudo denuncia a falta de ação da polícia nos casos de lésbicas atacadas: de 38 casos conhecidos, apenas um foi levado a juízo. No assassinato de Sizakele Sigasa, 34, e Salomé Masooa, 23, a polícia negou motivação homofóbica e todos os suspeitos presos foram postos em liberdade. Dias antes do crime, as mulheres haviam expressado que se sentiam ameaçadas em sua comunidade que as discriminava.

A perseguição de lésbicas nos guetos se converteu em um tema público com a morte de Eudy Simelane, 31, porque ela fazia parte da seleção feminina de futebol. Eudy era a mais famosa, mas também houve Sibonglile Mphelo, assassinada em um povoado perto da Cidade do Cabo, na frente de uma delegacia de polícia. Zoliswa Nkonyana, 19, foi apedrejada e golpeada por um grupo de jovens em Khayelitsha, Cidade do Cabo.

As ONGs de direitos humanos e de defesa de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais pedem maior ação policial e que os discursos políticos sejam mais do que palavras no país que se vangloria de ter a legislação mais progressista do mundo, “temos a lei, mas não os feitos”, diz Ludwig.

“Senzeni na?”

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