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As lésbicas nas novelas da Globo

Escrita por Walcyr Carrasco e com o título provisório “Caras e Bocas”, o novo folhetim das 7 promete, no roteiro original, um casal homossexual vivido por Flávia Alessandra e Ingrid Guimarães. Promete, mas não garante. O sucesso de um casal de lésbicas em uma novela da Globo depende essencialmente da aceitação do público, o soberano juiz global.

Há muitos anos que o brasileiro conta com as novelas globais para sugerir temas e, assim, mobilizar debates na sociedade. Aos poucos os homossexuais foram ganhando espaço nas novelas. Se fizermos uma retrospectiva dos casais lésbicos em novelas globais, veremos que muito se conquistou, mas ainda há muitos preconceitos e estereótipos para serem derrubados.

Tudo começou em 1988, quando a novela Vale Tudo apresentou o primeiro casal de lésbicas da teledramaturgia brasileira. Cecília (Lala Dehelnzelin) e Laís (Cristina Prochaska) trocavam carícias e andavam de mãos dadas, mas um acidente de carro acabou com o romance. A intenção do autor Gilberto Braga era discutir a questão da herança numa união homossexual. O casal não vingou e só 10 anos depois, na novela Torre de Babel, um novo casal de mulheres teve espaço nas novelas brasileiras.

Essa foi a primeira vez que a televisão brasileira nos apresentou um casal de lésbicas feliz, sem problemas e bem sucedido. Porém, para não fugir à regra, Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) foram literalmente explodidas! Isso se deu porque pesquisas de audiência mostraram a desaprovação do público e… bum! O casal bem resolvido desagradou e o desfecho não surpreendeu: casal homossexual e feliz demais, morte na certa!

Finalmente, em 2003, o casal das adolecentes Rafaela (Paula Picarelli) e Clara (Aline Moraes) conseguiu a aprovação da audiência. Os espectadores puderam acompanhar um romance quase virginal. As meninas trocavam carinhos singelos, olhares ciumentos e passavam por poucas e boas tentando driblar o preconceito da família e dos amigos. Mas o notável foi a polêmica do beija-não-beija: Não beija! A família brasileira já havia se acostumado a ver casais heterossexuais se engolindo, mas não estava preparada para um beijo homossexual.

Depois de superada a tradição de desfechos trágicos dos dois casais estreantes, Eleonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges), casal em Senhora do Destino (2004), trocaram selinhos e até adotaram uma criança. Por mais incrível que pareça, ficaram juntas e vivas!

Nos anos seguintes, outras duas personagens lésbicas tiveram espaço nas novelas globais. Primeiro Dolores, personagem de Vera Fisher em Duas Caras (2007), que provavelmente tinha uma queda pela sua secretária. Alguém viu?

Por fim, Stela (Paula Burlamarqui), que ajudou Catarina (Lilia Cabral) a se livrar de seu marido machista em A Favorita (2008) e, para a nossa felicidade, ainda a levou, coincidentemente ou não, para Buenos Aires, cidade considerada como maior capital friendly do mundo. Enquanto o Homem que é Homem foi preso e o verdureiro… vai saber o que aconteceu com o rapaz.

Para melhor aceitação da audiência, os autores seguiram sempre a mesma receita, distorcendo a realidade do mundo gay. Em primeiro lugar, todas devem ser incrivelmente femininas e lindas. Além disso, nenhuma delas tem amigos ou frequentam lugares gays, seguindo assim, os padrões heterossexuais de aceitação. Também vale lembrar que elas nunca se enquadraram na trama principal da novela e suas únicas demonstrações de carinho são ingênuas e assexuadas, o que nós bem sabemos que não é verdade, não é?

Agora esperamos que o casal da nova novela das 7 supere as expectativas e não siga a mesma fórmula dos outros. Há quem diga que é quase impossível, mas quem sabe Walcyr Carrasco não está preparando uma boa surpresa?

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