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As lições de um toco

A gente perde um pouco a noção de como é levar um toco quando está namorando. A pessoa que você ama está sempre ali, você procura, ela te acolhe, te dá carinho e vice-versa, tudo flui num curso calmo e confortável, mesmo que seja num dia em que sua namorada esteja de TPM ou de mal com a vida mesmo. Há até aquelas que te dão mole de vez em quando justamente porque você é casada e feliz.

Pois bem, depois de cinco meses solteira, na pista para negócio, redescobri como é árdua a vida de conquista por aí afora. Não sabia nem por onde começar, qual perfume passar, com que roupa sair, se usava maquiagem, não tinha nenhum manual em mãos para me auxiliar nessa nova fase, parecia uma adolescente se achando adulta só porque fez 18 anos.

Dificuldades à parte, fui à luta, não havia outro caminho. Então, liguei para uma amiga cheia de disposição, perguntei, vamos para a night? Ela me deu uma carona, partimos lindas para uma festa tipo teen, uma garotada que a-d-o-r-a eletrorock e curte todas aquelas músicas melancólicas de The L Word e afins. O traje do evento parecia halloween, mas me disseram que aquela indumentária fazia parte de um estilo emo de ser. Tudo bem.

Pensei, força na peruca, quem sabe a mulher da minha vida não está perdida por ali, respirei fundo, ignorei meu preconceito bobo com meninas novinhas, rodamos, rodamos, rodamos todo o quadrado da festa e, finalmente, encontrei uma garota que me apetecesse. Não tive dúvidas, depois de algumas cervejas na cabeça, concluí, vou chegar naquela menina que está ali quietinha no canto.

Estava tão convicta de mim, do meu potencial, cheguei perto, fui encostando, jogando todo o meu charme, falei para a garota, oi, posso te conhecer, ela me olhou um tanto indiferente e respondeu, pode, uai. Era mineira a menina, morena, pequena, parecida comigo, e aí eu – a sem noção – fui logo dizendo, posso te dar um beijo? Pimba, levei um tocão lindo e voltei para a minha insignificância num piscar de olhos.

Fiquei horas encostada no balcão do bar pensando no toco, tive uma vontade súbita de voltar para a minha ex-namorada naquele instante. Foi um choque, confesso, como alguém pode ser tão insensível assim? Dizer um não na lata traumatiza a pessoa. Foi aí que minha amiga querida, companheira de guerra, resolveu ser solidária. Só que ela não é do tipo que chega, mas pede uma amiga para chegar para ela, no caso, eu. Pensei, tudo bem, dessa vez, serei apenas uma mensageira do toco.

Encostei de novo, agora a garota era grande, alta, magra, sorri para menina, ela sorriu de volta, pensei, com essa será mais fácil, mamão com açúcar, mel na chupeta. Qual é o seu nome? Fulana de tal, ela respondeu. Prazer, eu disse, e emendei: minha amiga te achou linda. A garota não disse nada, virou as costas para pegar uma cerveja, cagou solenemente para a minha informação, e eu voltei com as mãos abanando. Depois disso, fomos pra casa dormir, óbvio.

Moral da história, levar um toco pode ensinar muitas coisas a uma pessoa. Primeiro, você aprende a ser mais humana, mais humilde, e descobre que não é uma Angelina Jolie, muito menos uma Scarlett Johansson. Dois, você aprende a escolher as festas certas, onde há pessoas que combinam com você, com seu estilo de vida. Três, você se acostuma a sair só para dançar, beijar na boca, só se te agarrarem mesmo. Quatro, você passa a ficar em casa lendo um livro, fica mais culta, deixa de ir pra rua e gasta menos. Cinco, você amadurece, e os tocos que leva já não te atingem mais. Por último, você acabado aprendendo a dar toco também.

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